Introdução: Estudos de ultrassonografia (US) articular de pacientes com artrite idiopática juvenil (AIJ) em remissão clínica demonstram a presença de sinovite subclínica e sinal Power Doppler (PD). O significado desses achados ainda não está bem compreendido.
Objetivos: Avaliar se as alterações detectadas por US em um grupo de pacientes com AIJ em remissão clínica pode predizer reativação da doença e avaliar possíveis fatores associados à reativação e dano articular ao longo de 30 meses de seguimento.
Métodos: Avaliação clínica/laboratorial: exame físico em 34 articulações, capacidade funcional e provas inflamatórias. Avaliação ultrassonográfica: sinovite, sinal PD e erosão em 34 articulações (60 recessos). Sinovite subclínica foi definida quando houve sinovite e/ou sinal PD presente na US de articulações de pacientes em remissão clínica. Reativação foi caracterizada quando qualquer articulação do paciente apresentou artrite ao exame físico, com necessidade de mudança terapêutica.
Resultados: Foram avaliados 35 pacientes, 28 (80%) meninas, 14 (40%) do subtipo oligoarticular persistente, 12 (34,3%) oligoarticular estendido, 9 (25,7%) poliarticular e 26 (74,3%) em remissão com medicação. No início do estudo, a média de idade dos pacientes foi de 11,6± 3,8 anos, a idade de início da AIJ foi de 4,4±3,2 anos, o tempo de evolução foi de 7,1±3,5 anos e o tempo de remissão foi de 1,9±2,2 anos. Dos 35 pacientes avaliados, 20 (57,1%) reativaram. Não houve diferença clínicas e ultrassonográficas entre os pacientes que reativaram e não reativaram. Em relação à avaliação articular, após 6 e 12 meses da avaliação ultrassonográfica, 70/3.162 (2,2%) e 80/2.108 (3,8%) das articulações reativaram, respectivamente. Articulações com sinovite subclínica e sinal PD presente reativaram mais após 6 e 12 meses. Dano articular (erosão) foi avaliado em 2.108 articulações e 25 (1,2%) apresentaram erosão na evolução. Articulações com sinovite subclínica apresentaram mais erosão. O risco de reativação foi cinco vezes maior em pacientes com sinal PD presente e 14 vezes maior em pacientes em remissão com medicação.
Conclusão: A presença de sinal PD e a remissão com medicação determinaram maior risco de reativação da AIJ. Articulações com sinovite subclínica e sinal PD presente reativaram mais ao longo de 12 meses e articulações com sinovite subclínica apresentaram mais erosão na evolução. Pacientes em remissão com medicação e sinal PD presente à avaliação por US devem ter a suspensão da medicação adiada, devido ao risco de reativação da AIJ. As articulações com sinovite subclínica ou sinal PD presente devem ser monitorizadas com maior frequência, devido aos riscos de reativação e dano articular a longo prazo.