Introdução: Apesar da queda da morbimortalidade de crianças e adolescentes infectados pelo HIV, ainda persiste uma maior suscetibilidade a doenças infecciosas e um comprometimento da resposta à vacinação nesta população. Entretanto, pouco se conhece sobre a resposta imunológica a vacinas na população adolescente infectada pelo HIV.
Objetivos: Avaliar a tolerabilidade, persistência de anticorpos e a resposta imune humoral e celular após dose de reforço com a vacina dTpa em adolescentes infectados com HIV e compará-la com a resposta de adolescentes saudáveis.
Metodologia: Em ensaio clínico controlado não cego, foram incluídos adolescentes infectados com HIV (n=30) e adolescentes saudáveis (CONTROLE, n=30) que receberam vacinação primária (3 doses) e pelo menos um reforço com a vacina tríplice bacteriana de células inteiras (DTP) na infância e tinham pelo menos 3 anos do último reforço. Os indivíduos do grupo HIV deveriam apresentar células T CD4+>200 células/mm3. Gravidez era critério de exclusão nos dois grupos. Uma dose da vacina dTpa foi administrada e os adolescentes preencheram uma ficha para registro de eventos adversos. Foram também realizadas 3 coletas de sangue: imediatamente antes da vacina (dia 0) e após 14 (dia 14) e 28 dias (dia 28). Foi realizada imunofenotipagem de linfócitos por citometria de fluxo no dia 0. A avaliação da imunidade humoral para tétano, difteria e toxina pertussis foi feita por ensaio imunoenzimático. A imunidade celular foi realizada para toxoide tetânico e B. pertussis após estimulação in vitro de sangue total e dosagem de citocinas em sobrenadante por X-MAP. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa e todos os pacientes ou seus responsáveis assinaram o termo de consentimento e assentimento livre esclarecido.
Resultados: Os grupos HIV e CONTROLE apresentaram média de idade de 17,9 e 17,1 anos, respectivamente. Os eventos adversos relatados foram semelhantes nos dois grupos, com exceção de dor local, que foi mais intensa no grupo CONTROLE (20,0%x66,7%, p<0,001).
No dia 0, a porcentagem de indivíduos suscetíveis nos grupos foi comparável, embora o grupo HIV apresentasse níveis de anticorpos para tétano mais elevados que o grupo CONTROLE. No dia 14 e dia 28, os 2 grupos responderam com elevação dos níveis de anticorpos para tétano, difteria e coqueluche. Entretanto, para difteria, o grupo HIV manteve níveis de anticorpos mais baixos nos dias 14 (p=0,001) e 28 (p=<0,001). Três indivíduos não atingiram níveis protetores para difteria, um dos quais também não soroconverteu para tétano. Para coqueluche, a proporção de indivíduos que soroconverteu foi significantemente menor no grupo HIV no dia 14 (p=0,002) e dia 28 (p=0,001).
Na avaliação da imunidade celular para tétano, ambos os grupos montaram uma resposta Th2 (IL-4, IL-5 e IL-13) e Th1 (IFN-γ). No grupo HIV, observamos um incremento da IL-17a, entretanto os níveis de citocinas em sobrenadante foram mais baixos quando comparados aos do grupo CONTROLE.
Já na avaliação da imunidade celular para coqueluche, o grupo HIV teve um incremento estatisticamente significante para citocinas do tipo Th1 (IFN-γ) e Th17 (IL-17a), enquanto o grupo CONTROLE, somente do tipo Th2 (IL-4).
Conclusões: A persistência dos anticorpos para difteria e coqueluche foi semelhante nos grupos HIV e CONTROLE; para o tétano, o grupo CONTROLE apresentou níveis de anticorpos significantemente mais baixos embora a proporção de indivíduos suscetíveis tenha sido semelhante. A vacina dTpa apresentou boa tolerabilidade nos dois grupos de adolescentes. Os grupos HIV e CONTROLE apresentaram uma boa resposta imune humoral para tétano, difteria, porém para coqueluche o grupo HIV demonstrou uma soroconversão inferior ao grupo CONTROLE. Tanto o grupo HIV quanto o CONTROLE apresentaram uma resposta imune celular para tétano e para coqueluche. Entretanto, níveis mais baixos de diversas citocinas foram observados no grupo HIV antes e após a vacina dTpa, sugerindo uma resposta celular menos eficiente, quando comparada à do grupo CONTROLE