Introdução: A hemorragia subaracnóidea (HSA) decorrente de aneurisma cerebral sempre foi uma preocupação na prática clínica por sua alta morbimortalidade. Apesar de existir uma vasta literatura sobre os fatores de mau ou bom prognósticos, nenhum deles isoladamente mostrou ser efetivo. A creatinofosfoquinase (CPK) e a fração CKBB (encontrada no tecido cerebral) têm sido relatadas na literatura como indicadores de lesão cerebral. Objetivos: Comparar os valores da CPK no pós-operatório imediato (POI) entre os grupos HSA (sangramento previamente à cirurgia) e Incidental (não apresentaram sangramento); e observar o seu valor prognóstico nesta amostra. Casuística e métodos: Trata-se de um estudo observacional e retrospectivo, com análise dos prontuários de pacientes provenientes do movimento neuroanestésico do Centro Cirúrgico do Hospital São Paulo – Escola Paulista de Medicina – EPM e submetidos a craniotomia para clipagem de aneurisma cerebral no período de 2008 a 2012, com pós-operatório na Unidade de Terapia Neuro-Intensiva e na Enfermaria de Neurocirurgia. Os critérios de inclusão foram paciente que tivessem dosagem de CPK no POI e/ou no Primeiro PO, e que foram submetidos a clipagem de aneurisma cerebral. Os critérios para exclusão de pacientes foram: pacientes que não tiveram a CPK e/ou CKMB coletados no pós-operatório; cirurgia de aneurisma cerebral realizada com técnica de parada circulatória total; quando os prontuários eletrônico e/ou impresso não foram localizados. Foram localizados 195 pacientes adultos (30 a 70 anos de idade), sendo que 45 foram excluídos. Assim, a amostra final foi composta de 150 pacientes, nos quais foram colhidos dados demográficos, clínicos, laboratoriais e cirúrgicos. Resultados: dos 150 pacientes, 99 tiveram HSA e 51 aneurisma incidental. A média de idade estava na sexta década para ambos os grupos, com predomínio feminino em ambos os grupos (69 mulheres no grupo HSA e 47 mulheres no grupo incidental), mas significativamente mais homens no grupo com HSA do que no grupo incidental; não houve diferença significante quanto às frequências de pacientes de etnias branca e afro-descendente quando comparados os dois grupos. Quanto ao aspecto clínico, a maioria dos pacientes apresentavam hipertensão arterial sistêmica (73,2% dos pacientes do grupo HSA e 67,7% dos pacientes do grupo incidental) e história de tabagismo (57,7% dos pacientes do grupo HSA e 54,8% dos pacientes do grupo incidental) e em proporção maior que a população geral. Em relação à escala de Hunt e Hess, houve maior número de pacientes com graduação 1 e 2, e valor significativamente maior no sexo feminino. Quanto à escala de Fisher, o grupo feminino apresentou significativamente pior graduação (3-4). O vasoespasmo foi significantemente mais frequente no grupo HSA, porém não houve diferença em relação às outras complicações clínicas, como a infecção, distúrbio hidro-eletrolítico, re-operação, re-intubação, IRA (insuficiência renal aguda), AVC (acidente vascular cerebral) e óbito. Houve significantemente maior número de dias de internação na UTI (unidade de terapia intensiva) e maior número de dias de VM (ventilação
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mecânica) no grupo HSA do que no incidental. Quanto aos aspectos cirúrgicos, os aneurismas de circulação anterior foram mais frequentes; não houve diferença entre os grupos em relação ao tempo cirúrgico e a frequência de clipagem temporária, mas houve maior número de rotura intra-operatória do aneurisma no grupo HSA. Quanto ao aspecto laboratorial, os valores de CPK do POI (pós-operatório imediato) foram significantemente maiores no grupo HSA (mediana de 366 UI/L com percentis 25%-75% de 235-544) do que no grupo aneurisma incidental (mediana de 291 UI/ com percentis 25%-75% de 235-372,5 UI/L). Não houve diferença significante entre os valores de CPK quando comparados os grupos sem e com vasoespasmo, sem e com re-operações, sem e com rotura intra-operatória, sem e com clipagem temporária; não houve correlação dos valores de CPK com idade, duração de cirurgia e tempo de ventilação mecânica. A análise intragrupo dos pacientes com HSA foi realizada devido à diferença dos valores de CPK do POI entre os subgrupos feminino e masculino: não houve diferença quanto à etnia entre esses subgrupos; não houve diferença quanto ao número de pacientes quando analisados os distúrbios hidro-eletrolíticos, re-intubação, infecção, dias de ventilação mecânica ou dias de internação na UTI. Entretanto, houve diferença significante quando comparadas a duração da cirurgia, havendo correlação positiva entre os valores de CPK do POI e tempo de cirurgia (correlação baixa). Além disso, houve aumento significante dos valores da CPK entre os pacientes com alteração hidro-eletrolítica, e houve correlação baixa entre os valores da CPK do grupo HSA e os valores da glicemia. Conclusões: No pós-operatório imediato (POI) de clipagem de aneurisma cerebral, os valores da CPK foram significantemente maiores no grupo HSA (sangramento previamente à cirurgia); houve aumento dos valores absolutos da CPK no pós-operatório imediato de clipagem de aneurisma cerebral em relação aos valores normais, com aumento adicional no primeiro pós-operatório; o aumento de CPK foi maior nos homens com HSA, na presença de alterações hidro-eletrolíticas e com maior duração de cirurgia; não houve correlação entre CPK e o prognóstico do paciente considerando as variáveis analisadas no presente estudo.