Considerando o sentido e o alcance singular do tema da habitação para a
arquitetura moderna e para o século XX, a tese busca discutir a Cidade do
Amanhã, aquela construída nos anos 1950 a partir dos grandes déficits
habitacionais e das demandas urgentes de diversas ordens que se seguiram com
o fim da II Guerra Mundial. A partir da análise e reinterpretação de propostas
residenciais modernas desenvolvidas por Hans Scharoun para Berlim e pelos
membros do grupo Opbouw para Rotterdam, se pretende desnudar algumas
das contradições da arquitetura moderna com a cidade, expondo os dilemas,
as complexidades, as riquezas inesperadas e as tentativas não consolidadas
da ideia de cidade moderna. A revisão do legado de ideias e de estratégias
de projeto deixados pela arquitetura produzida no segundo pós-guerra
permite-nos caracterizá-lo como um período marcado, simultaneamente, por
aspectos de revisão e de continuidade com os princípios de projeto herdados
das vanguardas modernas. A partir disso, a investigação se baseia no exame
e na comparação das relações tipomorfológicas que se estabelecem entre as
unidades habitacionais, os edifícios, o tecido urbano e os espaços públicos
nesses dois recortes projetuais, como meio de identificar os recursos
empregados por esses arquitetos para estruturação da forma urbana. Para
tanto, se partirá de um questionamento a alguns dos principais pontos de
crítica direcionados a esses projetos como o predomínio da homogeneidade
e a ausência de diversidade e de diálogo com o entorno e com os espaços
públicos. A análise de projetos habitacionais de arquitetos tão distintos, com
trajetórias, obras e expressões plásticas igualmente tão diferentes, mostra,
por um lado, que eles têm, acima de tudo, muito em comum. Isso porque
eles estão, na realidade, construindo modelos semelhantes de cidade e de
sociedade. Por outro lado, o estudo mostra também que esses projetos
lidaram, nos anos 1950, com questões que se mantêm até hoje pertinentes
e atuais, podendo fornecer uma contribuição efetiva para o enfrentamento
do problema habitacional e para a melhoria da qualidade do ambiente
construído nas áreas residenciais das cidades brasileiras.