Nas últimas décadas no Brasil, as políticas públicas de avaliação têm
apresentado similitudes e diferenças de posições, por isso têm papel fundamental
na criação de um sistema de educação superior. Buscando conhecer essa
realidade, este trabalho teve como objetivo compreender os impactos das
políticas públicas de avaliação do governo federal sobre o trabalho docente no
Centro de Educação da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), no período
de 1970 até os anos 2000. A orientação teórico-metodológica delineou-se pelo
método de análise na perspectiva do materialismo-histórico-dialético, enquanto
um método que permite ir à raiz de nosso problema, ou seja, ao desvendamento
das leis que os produzem, a partir das contribuições de Marx, assim como de
autores que compartilham dessa linha de pensamento. O diálogo entre as
questões teóricas e o vivido pela pesquisadora possibilitou conhecer e captar por
meio de entrevistas e análise documental, relações que têm se constituído em
torno do processo avaliativo e do trabalho docente no âmbito da universidade.
Desse diálogo emergiram quatro categorias: a primeira categoria (A precarização
da carreira docente e as contradições do trabalho do professor) nos possibilitou
compreender que a carreira docente tem sido marcada por um processo de
precarização, resultado de múltiplos fatores, entre eles, a redução do
financiamento estatal e, consequentemente, diminuição salarial e perda de sua
isonomia. A segunda categoria (Sofrimento, alienação e resistência produzidos
pelas políticas de avaliação no âmbito do trabalho docente no Centro de
Educação da Ufes), nos revelou que, com a implantação das políticas públicas de
avaliação PARU, Provão e Sinaes o trabalho docente passou a ser um produto e
como tal vendido sob a lógica do mercado. Revelou-nos, também muitas formas
de resistência que produziram avanços e retrocessos na história da avaliação e
que todos os docentes mostraram-se conscientes da importância de sua
participação na construção das políticas de avaliação. A terceira categoria (os
sinais da Ditadura ou a ditadura do “Sinaes” sobre o trabalho docente) nos
revelou que apesar de o Governo Lula dispor de um discurso “democrático”,
instalou o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes), como
política pública de avaliação a partir do modelo de práticas “próprias” da ditadura
militar, orientadas por uma concepção produtivista, que prioriza a eficiência e a
eficácia. A quarta categoria (o produtivismo acadêmico e o processo de
desvalorização do trabalho do professor da graduação) descreveu como ocorre o
produtivismo acadêmico no centro pesquisado, assim como a supervalorização do
professor da pós-graduação em detrimento do professor da graduação. A partir da
análise realizada no corpo das referidas categorias, foi possível comprovar nossa
hipótese segundo a qual as políticas públicas de avaliação do governo federal
afetam diretamente o trabalho docente e fragilizam a autonomia e os vínculos da
universidade com um projeto transformador da sociedade. Assim, a análise traz
indicativos para pensarmos sobre as ideologias que envolvem as políticas
públicas de avaliação da educação superior e o processo de desvalorização do
trabalho docente no Centro de Educação da Ufes.