O presente estudo teve como objetivo avaliar os efeitos do
pneumoperitônio e da posição de Trendelenburg sobre o fluxo de saída do ventrículo
esquerdo em gatos anestesiados. Foram utilizados 14 gatos, sem raça definida, com
peso médio de 2,8 ± 0,9 kg, machos (n=3) e fêmeas (n=11), clinicamente hígidos. Os
animais foram distribuídos aleatoriamente em dois grupos de sete animais, sendo
denominados como GC e GTREN. Os animais do GC foram submetidos
pneumoperitônio de 10 mmHg com dióxido de carbono (CO2) com fluxo de 1 L/min.
Os animais do GTREN foram ao pneumoperitônio de 10 mmHg com CO2 com fluxo
de 1 L/min e à posição de Trendelenburg 20°. Os animais em ambos os grupos
foram induzidos à anestesia com isoflurano (fração inspirada de 3,5% diluído
100mL/kg/min) utilizando-se caixa de indução. Uma vez que os animais
apresentaram relaxamento mandibular foi realizada a intubação orotraqueal, sendo
em seguida conectada ao circuito valvular circular do aparelho de anestesia e
mantidos em respiração espontânea com isoflurano (fração inspirada de 1,5% com
fluxo de 100mL/kg/min) diluído em 100% de oxigênio. Foram mensurados a
velocidade do fluxo de saída do ventrículo esquerdo (VFSVE), o gradiente máximo
de pressão na saída do ventrículo esquerdo (GmáxSVE), gradiente médio de
pressão na saída do ventrículo esquerdo (GmédSVE), a integral velocidade-tempo
(IVT), as frequências cardíaca (FC) e respiratória (ƒ), infra ou supranivelamento do
seguimento S-T, comportamento da onda T (onT) e onda R (onR), pressão arterial
média (PAM) e temperatura retal (TR). Foram coletadas amostras de sangue arterial
para monitoramento hemogasométrico de todos os animais durante o experimento.
Os parâmetros foram verificados e registrados nos seguintes momentos: antes de
qualquer medicação, T0; imediatamente antes da insuflação, TAINS (Basal); cinco
minutos após a insuflação, T5; quinze minutos após a insuflação, T15; trinta minutos
após a insuflação, T30. Os animais do GTREN foram posicionados em cefalodeclive
de 20° logo após a indução do pneumoperitônio. Os resultados desta pesquisa
mostraram aumento nos valores médios da VFSVE no GC em relação à TANIS nos
momentos T15 e T30 (p=0,024) e nenhuma alteração significativa no GTREN e na
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análise comparativa entre os grupos; em relação aos gradientes de pressão e IVT
houve aumento do GmáxSVE no GC em relação à TAINS apenas no momento T30
(p=0,045) e nenhuma diferença significativa no GTREN; não houve alterações no
GmédSVE e IVT. Verificou-se diminuição de amplitude do S-T no GC em relação ao
TAINS nos momentos T15 e T30 (p=0,001) e aumento do S-T no GTREN em
relação ao GC no momento T30 (p=0,011). Na avaliação do comportamento da onda
R houve redução da amplitude no GC em relação à TAINS em todos os momentos
(p=0,001), permanecendo inalterado no GTREN e na análise comparativa entre os
grupos; não houve alteração no comportamento da onT. Observou-se queda da FC
no GTREN em relação ao TAINS somente no momento T5 (p=0,035). Os valores
médios da ƒ foram inferiores no GTREN em relação à TAINS nos momentos T5 e
T15 (p=0,007) e inferior ao GC em T5 (p=0,003) e T15 (p=0,04). Houve redução da
TR no grupo GC (p=0,0001) e GTREN (p=0,0001) em todos os momentos,
comparativamente ao TAINS, além de GTREN ser estatisticamente menor que GC
em T30 (p=0,007). No GC verificou-se incremento da PAM em T5 e T15 (p=0,039).
Constatou-se redução do pHa no grupo GC e GTREN em todos os momentos
comparativamente ao TAINS. Verificou-se em GC incremento da PaCO2 no T15 e
T30 (p=0,002) e em todos os momentos no GTREN (p=0,0002). Conclui-se que o
Pnp de 10 mmHg com CO2, aumentou a VFSVE e o GmáxSVE, mais não alterou a
IVT; que a Tnd favoreceu o sistema cardiovascular, mantendo estáveis os valores da
VFSVE, do GmáxSVE e da IVT; e por fim que associação do Pnp com a Tnd não
causaram nenhum tipo de obstrução dinâmica na VSVE.