Apesar da relativa eficácia de tratamentos comportamentais e farmacológicos, a vasta maioria de fumantes tende a recair após tentativas de parar de fumar. A regulação emocional e comportamental subsequente à cessação do consumo parecem ser fatores de risco para recaídas, tornando-se necessário pesquisar sobre modelos terapêuticos que estimulem a habilidade de resposta aos afetos negativos. O programa Mindfulness-Based Relapse Prevention como adjunto ao tratamento para abuso de substâncias, vem apresentando resultados promissores neste sentido. Mas ainda não foi testado para tabagismo. O objetivo geral desta dissertação foi avaliar o programa de Mindfulness-Based Relapse Prevention como adjunto no tratamento de cessação do tabagismo instituído pelo Ministério da Saúde, por meio do Instituto Nacional de Câncer no Brasil. A tese se divide entre 3 estudos, sendo o primeiro uma revisão de literatura que visou avaliar o estado da arte das pesquisas clínicas envolvendo mindfulness na cessação do tabagismo, já publicado. Um segundo estudo de delineamento transversal, do qual participaram 116 pacientes que estavam em uma lista de espera para tratamento da dependência de tabaco pela primeira vez. Neste foram utilizadas as escalas Fagerstrom Test for Nicotine Dependence, Hospital Anxiety and Depression Scale, Five Facet Mindfulness Questionnaire-BR e The Positive and Negative Affect Schedule. Foram realizadas análises descritivas para caracterizar a amostra. Em seguida foram realizadas análises de correlação bivariada de Pearson entre a variável desfecho (mindfulness disposicional) e cada variável explicativa: ansiedade, depressão, afeto positivo, afeto negativo e nível de dependência de tabaco. O modelo de regressão linear foi adotado a fim de avaliar a contribuição de cada uma das variáveis quando controladas pelas demais. Os resultados do modelo de regressão final indicaram que 36,2% da variância dos níveis de mindfulness disposicional na amostra podem ser explicados por afetos positivos (B = 0,81; p < 0,001), nível de dependência de tabaco (B = 1,48; p = 0,007) e afetos negativos (B = -0,44; p = 0,02). Depressão e ansiedade não foram incluídas no modelo final (p > 0,10). Este estudo 2 confirmou a associação entre mindfulness disposicional, níveis de dependência do tabaco, afetos positivos e afetos negativos entre pessoas que procuram tratamento pela primeira vez. O Estudo 3 apresenta resultados de um ensaio pragmático piloto randomizado
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comparando pacientes que receberam 8 sessões de Mindfulness-Based Relapse Prevention além do tratamento padrão instituído pelo Ministério da Saúde no Brasil, que segue princípios da Prevenção de Recaída, com pacientes que receberam apenas prevenção de recaída. 86 fumantes foram randomizados entre grupo Mindfulness-Based Relapse Prevention (n = 44) e grupo controle ativo de prevenção de recaída (n = 42). Dados foram coletados no baseline, pré-intervenção, pós-intervenção e em follow up de 6 meses, em relação à abstinência (Fagerstrom Test for Nicotine Dependence e medição do nível de CO pelo Smokerlyser), à ansiedade e depressão (Hospital Anxiety and Depression Scale), à fissura (Questionnaire on Smoking Urges), aos níveis de mindfulness (Five Facet Mindfulness Questionnaire), afetos positivos e negativos (The Positive and Negative Affect Schedule). Análises descritivas foram feitas através de apresentação de medidas de proporção, tendência central e dispersão. Para avaliar a diferença entre os grupos utilizou-se teste exato de Fisher, o teste T de Student e o teste exato de McNemar. Considerando a alta taxa de dropout, adotou-se para nas análises o método de intenção para tratamento (Intention-To-Treat). Adicionalmente, avaliou-se a razão do número de pacientes abstinentes em cada grupo com o número de pacientes que estavam fumando após 6 meses da avaliação inicial. A análise dos desfechos secundários foi realizada através da Anova de medidas repetidas. Não foi possível encontrar diferença estatística em relação à abstinência em 6 meses comparando o grupo Mindfulness-Based Relapse Prevention e o grupo controle ativo. Contudo, na análise dentre participantes, o grupo MBRP apresentou uma tendência de vantagem no período com relação a evolução das taxas de abstinência (McNemar's 2 = 3.27, df = 1, p = 0.07), uma vez que para cada paciente abstinente apenas um paciente recaiu enquanto no grupo controle ativo, para cada paciente abstinente, três recaíram (McNemar's 2 = 19.05, df = 1, p = 0.005). Com relação aos desfechos secundários, o grupo Mindfulness-Based Relapse Prevention também exibiu uma tendência à diminuição da fissura (M = 17,583; 95% IC (4.537 | 30.629); p = 0.01), com aumento nos níveis de mindfulness (M= -7.833; 95% IC (-14.065 | -1.601); p = 0.016) comparando pré e pós-intervenção. Este estudo demonstra benefícios de Mindfulness-Based Relapse Prevention como adjunto ao tratamento padrão para cessação de tabaco.
Palavras-chave: Mindfulness, Meditação, Recaída, Tabagismo, Fissura.