A classe Chondrichthyes é representada por animais de esqueleto cartilaginoso e
calcificação prismática. Eles são divididos em duas subclasses, Elasmobranchii
(tubarões e raias) e Holocephali (quimeras), que têm uma história evolutiva de mais
de 400 milhões de anos. Devido à grande adaptabilidade destes animais em
diferentes habitats, eles desenvolveram sofisticadas habilidades sensoriais, como os
sistemas mecanorreceptor da linha lateral e eletrossensorial. A maior ordem de
tubarões, a Carcharhiniformes tem a maioria dos representantes ocorrendo no
Brasil. Entre eles, destacamos o tubarão-azul (Prionace glauca), pelágico oceânico,
espécie de grande porte e cosmopolita, e um pequeno tubarão pelágico costeiro, o
tubarão-frango (Rhizoprionodon lalandii), representantes dessa ordem com grande
importância econômica pela sua pesca. Dada a diversidade morfológica e funcional
dos sistemas sensoriais, em resposta a variações ecológicas e filogenéticas, o
objetivo deste estudo foi descrever as estruturas morfológicas da linha lateral e das
ampolas de Lorenzini, os dentículos dérmicos e os nervos associados à elas, em P.
glauca e R. lalandii, utilizando documentação textual e fotográfica de estruturas
macroscópicas, e métodos de microscopia, como microscopias de luz, eletrônica e
imunofluorescência. Histologicamente, o neuromasto, principal unidade celular da
linha lateral mostrou-se semelhante em ambas as espécies, e em P. glauca, esta
célula foi encontrada desde o período intra-uterino. Em P. glauca, foi relatado um
novo tipo de canal sensorial associado à linha lateral. A ampola de Lorenzini de R.
lalandii revelou-se mais organizada do que em P. glauca, devido à quantidade e
estruturação dos alvéolos. Os dentículos dérmicos de R. lalandii são mais
especializados em várias regiões, particularmente as que envolvem os poros
sensoriais. Em relação às características microscópicas dos nervos, eles se
assemelham estruturalmente aos dos vertebrados superiores. Para a
imunofluorescência, a colocalização foi realizada por tripla marcação dos núcleos
dos nervos (DAPI), com receptor de membrana (P2X7), fibras inibidoras (NOS) e
células gliais (GFAP), nos nervos da linha lateral e oftálmico superficial. Em ambas
as espécies, a distribuição dos nervos foi uniforme. Em suma, as características
estudadas em P. glauca são muito semelhantes às encontradas em R. lalandii, no
entanto, devido ao hábito da vida oceânica, outras estratégias sensoriais seriam
mais relevantes para a sua sobrevivência neste ambiente. As características
microscópicas de R. lalandii demonstraram a relação adaptativa com a ecologia da
espécie. Seu estilo de vida costeiro demonstrou maior especialização em certos
sistemas sensoriais, contribuindo para melhor adaptação em determinados
ambientes, uma vez que a morfologia e a organização dos sistemas sensoriais estão
diretamente ligadas ao estilo de vida dos indivíduos.