A hanseníase é uma doença infectocontagiosa crônica que pode provocar incapacidades físicas, se não diagnosticada e tratada precocemente. A doença ainda persiste como um relevante problema de saúde pública em diversos países, entre eles o Brasil. A hanseníase não se distribui de forma homogênea no país, apresentando maiores taxas de prevalência e de detecção de casos novos no Centro-Oeste, Norte e Nordeste. No entanto, alguns estados do Sudeste também possuem regiões endêmicas, o qual se enquadra Minas Gerais. Este apresentou, em 2013, taxas de detecção de hanseníase geral e em menores de 15 anos de idade acima dos parâmetros recomendados (6,04/100 mil habitantes e 1,10 casos novos/100 mil habitantes, respectivamente), uma taxa de detecção de casos novos com grau 2 de incapacidade física de 0,59 por 100 mil habitantes e uma proporção alta de casos novos com grau 2 de incapacidade física (9,8%). Diante desse contexto, torna-se importante analisar o comportamento epidemiológico da hanseníase em Minas Gerais, com foco nas incapacidades físicas, visto que a doença está sendo diagnosticada tardiamente no estado, o que sugere também a existência de pessoas doentes sem diagnóstico, o que contribui para a permanência da cadeia de transmissão da doença e de seu impacto negativo na população. O objetivo do estudo foi analisar a tendência epidemiológica da hanseníase em Minas Gerais no período de 1995 a 2015, com foco na incapacidade física grau 2. A pesquisa refere-se a um estudo ecológico de séries temporais. A população foi composta pelos casos novos de hanseníase registrados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação residentes em Minas Gerais na data do diagnóstico, no período de 1995 a 2015. Para a análise de tendência foi utilizado a regressão de Prais-Winsten, com significância estatística de 5% (p < 0,05). As análises foram realizadas nos programas Stata versão 12 e Excel versão 10. Os resultados mostraram que houve um declínio significativo das taxas de detecção de casos novos de hanseníase e de detecção de casos novos com grau 2 de incapacidade física no estado, com uma queda de 5,64% e 6,95% ao ano, respectivamente. Entretanto, a proporção de casos novos de hanseníase com grau 2 de incapacidade física no diagnóstico apresentou tendência estacionária em todo o período. Apesar da redução das taxas de detecção geral e de casos novos de hanseníase com grau 2 de incapacidade física, a tendência estável da proporção de casos novos de hanseníase com grau 2 de incapacidade física no diagnóstico prediz detecção tardia da doença e possibilita inferir uma dificuldade operacional dos serviços de saúde em detectar a hanseníase precocemente, contribuindo para a permanência da cadeia de transmissão da doença e de suas consequências físicas, econômicas e psicossociais.