Fasciola hepatica (Linnaeus, 1758) é um trematódeo digenético que parasita o parênquima hepático e ductos biliares de ruminantes e outros mamíferos, inclusive o homem. É o agente etiológico da fasciolose, uma doença de grande importância na medicina veterinária por causar perdas econômicas na pecuária. No Brasil, a fasciolose apresenta-se em expansão, com a maior área enzoótica situada na região Sul, seguida das regiões Sudeste e Centro Oeste. Em Minas Gerais, os registros são descritos de forma isolada e novos casos em regiões antes consideradas indenes têm sido relatados. Este projeto avaliou a ocorrência do parasito em rebanhos bovinos e bubalinos nos municípios de Pedro Leopoldo e São José da lapa, localizados na região metropolitana de Belo Horizonte. Foram realizados levantamentos referentes às condenações de fígados em frigorífico, exame de amostras de fecais dos rebanhos em propriedades rurais e análise da infecção natural pelo parasito em moluscos do gênero Lymnaea. Foram observados fígados condenados devido ao parasitismo por F. hepatica em bovinos e bubalinos provenientes desses municípios. No inquérito epidemiológico, 65 propriedades rurais foram visitadas, das quais 29 apresentaram pelo menos um ruminante naturalmente infectado. Dos moluscos coletados, 0,3% estavam infectados por F. hepatica. Para se compreender melhor aspectos dessa interação parasito-hospedeiro, ovinos da raça Santa Inês foram experimentalmente infectados e acompanhados durante as fases aguda e crônica da infecção, com a avaliação de parâmetros parasitológicos, hematológicos e imunológicos. Os ovinos se mostraram susceptíveis à infecção eliminando ovos nas fezes em torno de 60 dpi. Esses animais apresentaram anemia e eosinofilia durante o período experimental. As citocinas TGF-β1 e óxido nítrico (NO), típicas da resposta imune inata, foram detectadas no sobrenadante de cultura de PBMCs durante a fase aguda e crônica da infecção. A participação de IgG também foi avaliada e observou-se que esse anticorpo é produzido em taxas elevadas no início da infecção, e que seus valores decaem ao longo do tempo, demonstrando que essa resposta não promove proteção ao hospedeiro contra o parasito. Com base nos dados obtidos, concluiu-se que F. hepatica está em expansão em Minas Gerias. Bovinos, bubalinos e moluscos Lymnaea são encontrados naturalmente infectados nos municípios de Pedro Leopoldo e São José da Lapa, comprovando a ocorrência do ciclo do parasito na região, podendo ser fonte de contaminação para áreas próximas. Ovinos da raça Santa Inês são susceptíveis a infecção, ocorrendo alterações hematológicas e imunológicas significativas no decorrer da infecção, sugerindo uma resposta mista do tipo Th1 e Th2 na fase crônica da fasciolose.