Esta dissertação investiga as aproximações entre Literatura e História no romance O Rastro do Jaguar (2009), do jornalista mineiro Murilo Carvalho, e estuda as transformações que ocorrem na personagem Pierre Saint’Hilaire quando este vem ao Brasil em busca de sua identidade. Premiado pela editora portuguesa Leya, de Lisboa, Portugal, em 2008, esse romance intersecciona a narrativa histórica sobre a Guerra do Paraguai e a guerra empreendida pelo colonizador português e, na sequência, pelos colonos brasileiros contra os índios Botocudos com a viagem de Pierre Saint’Hilaire. Diferentemente da produção literária romântica, o resgate do mito indígena Guarani nesse romance não objetiva a construção/representação de uma identidade nacional a partir da literatura, mas sim colocar em foco a participação do índio Guarani na Guerra do Paraguai, emblematicamente representado por Pierre. O índio é introduzido na narrativa como um sujeito histórico, construtor da sua história e participante ativo da História do Brasil tanto quanto os colonizadores portugueses e espanhóis. É a representação do indígena como um sujeito de identidade fragmentada, vítima da exclusão social e sujeito à extinção, lutando para se defender. O trabalho foi desenvolvido da seguinte maneira: no primeiro capítulo, estudamos as aproximações entre Literatura e História, fazendo uma reflexão sobre lugares, personagens, situações, fatos históricos recontados, recriados com base nos estudos de Hayden White, Peter Burke, Alcmeno Bastos. Enfocamos a Guerra do Paraguai a partir dos estudos de Francisco Doratioto, José J. Chiavenatto e Visconde de Taunay; a Guerra contra os Botocudos segundo as pesquisas de Márcia Amantino e Manuela C. Cunha; e o gênero Literatura de Viagens com fundamento nas reflexões de Fernando Cristóvão. No segundo capítulo, fazemos a análise da viagem da personagem Pierre, concluindo que a fuga dos índios para o interior das matas se impõe como alternativa para salvar suas vidas. As mortes causadas pela fome e pelas doenças, bem como os assassinatos por serem considerados “apenas um índio”, foram determinantes na sua decisão de assumir o lugar de jaguar, o guardião do povo Guarani.