A Educação de Jovens e Adultos é um segmento que apresenta grandes desafios aos educadores. Nosso trabalho parte do histórico desta fatia escolar, tradicionalmente um campo de acirradas disputas políticas, para compreender o lugar atual que é relegado a ela na realidade pesquisada. Abordamos o contexto atual da EJA no âmbito da Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro, especificamente do bairro de Campo Grande, município do Rio, no Colégio Estadual Monteiro Lobato. Através do trabalho direto com a turma pesquisada foi possível perceber o perfil dos alunos, em profunda consonância com a dinâmica cruel de um sistema econômico que, ao se sofisticar, produziu um desemprego estrutural e uma massa carente de qualquer trabalho, que absorve o discurso e os sonhos do grande capital como seus, o que pudemos compreender a partir da produção acadêmica de Ricardo Antunes. Nos discursos dos documentos oficiais produzidos pelo país após a redemocratização, a educação teria a missão de formar para a cidadania e para a criticidade, além de preparar para o “mundo do trabalho”. Diante desta configuração, refletimos qual deveria ser o papel da EJA e, sobretudo, do Ensino de História, para estas pessoas que se iniciaram neste “mundo do trabalho” com nenhuma ou pouca intermediação da escola. No que diz respeito ao ensino de História, defendemos que para os jovens e adultos ela deva ser revalorada. É necessário partir do estímulo nos alunos a um olhar profundo para suas realidades atuais e suas histórias de vida no que diz respeito à condição de trabalhador para entender-se enquanto herdeiro de um longo caminho de lutas. Mais do que isto, diante desta percepção de si mesmo enquanto sujeito histórico resultado não só de um modelo econômico que se projeta na produção massiva de miséria e na exploração, mas também da trajetória dos trabalhadores no enfrentamento dos antagonismos de classe, acreditamos que esta disciplina tem um forte compromisso com a transformação da postura destes alunos diante do mundo. Transformação esta que não está centrada em uma cidadania que se limite ao exercício do voto e a conformidade com o modus operandi capitalista, mas vá na direção da compreensão de que existem outras realidades possíveis e que somente com o engajamento na luta podemos alcançá-las. Para tanto, defendemos o texto teatral, especificamente o da peça Eles não usam black-tie, de Gianfrancesco Guarnieri, como um dos caminhos possíveis para desenvolver uma metodologia de trabalho em sala de aula onde aconteça a catarse, no sentido gramsciano do termo. Relatamos a aplicação deste método com a turma pesquisada e analisamos os erros e acertos dentro das configurações que enfrentamos ao longo de sua realização.