Objetivos: 1) avaliar possíveis alterações corneais topográficas e tomográficas em
olhos afetados e em olhos normais contralaterais de pacientes com espasmo
hemifacial (EH) tratados com toxina botulínica-A (BTX-A); 2) avaliar possíveis
alterações palpebrais morfométricas em olhos afetados e em olhos normais
contralaterais de pacientes com espasmo hemifacial (EH) tratados com toxina
botulínica-A (BTX-A); 3) comparar dois tipos de sistemas de obtenção de imagem
corneal (sistema Plácido versus sistema Scheimpflug) para avaliar parâmetros corneais
em pacientes com espasmo hemifacial. Métodos: Alterações em parâmetros corneais
topográficos e tomográficos (magnitude do astigmatismo corneal e ceratometria) e
palpebrais morfométricos (fenda palpebral e área da superfície interpalpebral) foram
avaliadas em pacientes portadores de espasmo hemifacial durante um ciclo completo
de tratamento (antes, 15 dias, dois, três e quatro meses) após aplicação de BTX-A
(Botox®, Allergan, Irvine, CA, EUA) na hemiface afetada. Para análise palpebral
morfométrica, utilizou-se o programa Image J. Para análise corneal topográfica, foi
utilizado o sistema Plácido (ATLAS; Carl Zeiss Meditec, Dublin, CA) e para análise
corneal tomográfica, foi utilizado o sistema Scheimpflug (Pentacam Oculus, Inc., Berlin,
Alemanha). Resultados: Vinte e quatro pacientes foram tratados com BTX-A. Na
hemiface normal, antes do tratamento, os valores da fenda palpebral (FP), da área
superfície interpalpebral (ASI), do K mais curvo e do astigmatismo corneal (sistema
Plácido/ sistema Scheimpflug) foram 8,7 ± 1,98 mm, 122,09 ± 39,37 mm2, 44,99± 1,45/
44.89±1.33 D e 0,9 ± 0,64 D/ 0.87±0.87 D, respectivamente. Não foram observadas
alterações significantes nos parâmetros palpebrais ou corneais no lado normal ao longo
dos quatro meses. No lado afetado, antes do tratamento, os valores da FP, da ASI, do
K mais curvo e do astigmatismo corneal (sistema Plácido/ sistema Scheimpflug) foram
5,5 ± 1,77 mm, 67,68 ± 28,49 mm2, 46,91 ± 3,57 D/ 45.40±1.37 D, 2,63 ± 2.46D/ 1,27 ±
0,88 D, respectivamente. Na hemiface acometida, observou-se aumento significante da
FP e da ASI (8,36 ± 1,91 mm e 115,92 ± 34,44 mm2, respectivamente aos 15 dias; 8,18
± 1,80 mm e 112,22 ± 33,57 mm2, respectivamente aos 2 meses e 7,27 ± 1,65 mm e
95,48 ± 27,80 mm2, respectivamente aos 3 meses) e diminuição significante do K mais
curvo e do astigmatismo corneal (45,14 ± 1,20 D e 1,01 ± 0,58 D, respectivamente aos
2 meses e 45,64 ± 1,77 D e 1,36 ± 1,31D, respectivamente, aos 3 meses), quando
avaliados pelo sistema Plácido. O sistema Scheimpflug não detectou alterações na
ceratometria mais curva ao longo dos quatro meses. Este sistema demonstrou redução significante na magnitude do astigmatismo corneal somente aos 15 dias (1,16 ± 1.16D;
p = 0,02) e aos 4 meses (0,91 ± 0,59; p = 0,03). Tanto os parâmetros palpebrais
morfométricos, quanto os corneais topográficos tenderam a retornar aos valores de
base quatro meses após aplicação da toxina botulínica. Comparação dos parâmetros
topográficos entre olhos acometidos e olhos normais contralaterais com o sistema
Plácido demonstrou diferenças estatisticamente significantes entre ambos os olhos
antes e quatro meses após o tratamento. Antes do tratamento, os valores do K mais
curvo (46,91 ± 3,57 D) e do astigmatismo corneal (2,63 ± 2,46 D), com o sistema
Plácido, foram significativamente maiores nos olhos afetados, em comparação aos
olhos normais (44,99 ± 1,45 D e 0,90 ± 0,64 D), p = 0,001 para o K mais curvo e p =
0,0003 para o astigmatismo corneal. Diferenças significantes entre o olho afetado (1,42
± 0.83 D) e o olho não-afetado (0,91± 0.64 D) também foram observadas para o
astigmatismo corneal aos quatro meses (p= 0,006). Observou-se tendência à
diminuição dessas diferenças durante o período de ação da BTX-A. Conclusões: 1) O
tratamento com BTX-A em pacientes com EH levou a alterações corneais topográficas
no olho afetado durante o período de ação da toxina. Já os parâmetros corneais
tomográficos não demonstraram um padrão que refletisse, de forma evidente, o tempo
de duração da droga. 2) Alterações palpebrais morfométricas temporárias foram
demonstradas no olho acometido durante o periodo estudado; 3) As alterações
corneais temporárias, secundárias à redução dos espasmos palpebrais após aplicação
de BTX-A no lado afetado, foram melhor detectadas com o sistema Plácido do que com
o sistema Scheimplug.