Mastite causada por Escherichia coli tem a capacidade de estimular intensamente o sistema imunológico e desencadear rapida inflamação na glândula mamária. Em contraste, Mycobacterium avium subsp. paratuberculosis (MAP), agente etiológico da paratuberculose, caracterizada por enterite granulomatosa crônica, pode infectar a glândula mamária sem estimular intensamente a resposta inflamatória. A interação dessas duas bactérias na glândula mamária ainda é desconhecida. Em alguns casos, tanto a eliminação de MAP pelo leite como pelas fezes podem ocorrer de forma passiva, após a infecção ascendente da glândula mamária ou após ingestão de MAP, respectivamente. Estes animais, chamados passive-shedders, são importantes como uma fonte de infecção a animais suscetíveis no rebanho. O objetivo deste estudo foi investigar a relação entre MAP e E. coli em células de glândula mamária sob condições experimentais e verificar a presença de animais passive-shedders. A relação entre uma cepa K-10 de MAP e E. coli isolada de leite mastítico em linhagem de células epiteliais mamárias (MAC-T) foi avaliada. As células previamente infectadas com MAP diminuíram a invasão de E. coli durante 120 min de experimentação. Contudo, a eficiência da translocação de E. coli e a viabilidade das células MAC-T não foram comprometidas. Ao contrário, células previamente infectadas por E. coli aumentaram a capacidade de translocação baso-apical de MAP até os 30 min e diminuiu aos 120min pós-infecção. A quantificação de citocinas relevou que a expressão de IL-1β aos 120min foi significativa (P<0.05) para células infectadas por MAP + E. coli e E. coli apenas. As expressões de MAPKp38 e IL-10 não foram significativas, independente do tempo pós-infecção. Para detectar a ocorrência de animais passive-shedders, 10 propriedades foram previamente investigadas para a presença de MAP. Treze cabras foram positivas por cultura de fezes e/ou PCR de leite. Dentre os animais positivos, quatro (4/13) foram adquiridas e avaliados por IS900-PCR, cultura de fezes, de leite e de tecido, e sorologia (ELISA). Todos os resultados foram negativos no período de um ano, demonstrando que os animais realizaram o fenômeno pass-through e a contaminação ascendente da glândula mamária, sem tornarem-se infectados. No geral, esses resultados indicam que a presença de MAP nas células mamárias pode dificultar a capacidade de invasão de E. coli, mas quando no interior da célula mamária, translocam-se mais eficientemente. No entanto, quando as células são previamente infectadas por E. coli, MAP é rapidamente atraído da região subepitelial para a superfície celular. A produção de IL-1β intensifica a atração de macrófagos para o sítio de infecção, onde MAP se beneficia, infectando-os.