O herpesvirus equino tipo 1 (EHV-1) é um importante patógeno que causa doença
respiratória, abortamento e desordens neurológicas em equinos. O presente estudo
foi realizado visando avaliar a resposta inflamatória causada pelo EHV-1 por meio da
análise das manifestações clínicas, alterações histopatológicas e resposta imune do
hospedeiro no sistema nervoso central (SNC). Camundongos das linhagens BALB/c
(H2d), C57BL/6 (H2b) e C3H/HeJ (H2k) foram inoculados por via intranasal com as
estirpes brasileiras A4/72 e A9/92 do EHV-1. Nesse estudo, associou-se a
histopatologia, a resposta de citocinas pró-inflamatórias no SNC de camundongos
das diferentes linhagens e o método de transcrição reversa seguida pela reação em
cadeia da polimerase quantitativa em tempo real (RT-qPCR) para investigar a
relação entre a infecção pelo EHV-1 e a resposta inflamatória com o
desenvolvimento de lesões. As estirpes brasileiras A4/72 e A9/92 do EHV-1
causaram infecção aguda e letal nas diferentes linhagens de camundongos
isogênicos. Os sinais clínicos e neurológicos, tais como perda de peso, pelos
arrepiados, postura arqueada, apatia, dispneia, desidratação e sialorreia apareceram
entre o 2º e 3º dia pós-infecção (dpi). Essas manifestações foram acompanhadas
pelo aumento da sensibilidade a estímulos externos, convulsões, recumbência e
morte. As alterações histopatológicas consistiram em necrose neuronal, edema,
necrose de liquefação, leptomeningite neutrofílica, manguito perivascular,
hemorragia focal, inflamação não supurativa, gliose multifocal e infiltração
perivascular de células polimorfonucleares e mononucleares. As características e a
extensão das lesões variaram entre as linhagens de camundongos. Animais
inoculados com a estirpe A4/72 apresentaram lesões histopatológicas de maior grau
de severidade quando comparados com aqueles inoculados com a estirpe A9/92.
Observou-se aumento da concentração plasmática de TNF-α, IL-6, CCL2 e IFN-g
nos camundongos infectados pelo EHV-1 no 2º dpi. Detectou-se aumento da
concentração plasmática e da expressão de mRNA para TNF-α, IL-6 e CCL2 no
SNC dos camundongos infectados pelo EHV-1 no 3º dpi; entretanto, não houve
aumento da concentração plasmática nem da expressão de mRNA para IFN-g no 3º
dpi. Evidenciou-se que a estirpe A4/72 do EHV-1 induz uma resposta imune
sistêmica mais efetiva, enquanto que o vírus A9/92 culmina em uma resposta
imunológica mais efetiva no SNC. Os camundongos com o fundo genético C57BL/6
e BALB/c mostraram níveis mais altos de expressão de mRNA para TNF-α, IL-6 e
CCL2, quando comparados com os C3H/HeJ. A gravidade dos sinais clínicos
observados em camundongos infectados pode ser correlacionada com o pico
dessas citocinas pró-inflamatórias (TNF-α e IL-6) e da quimiocina CCL2, que são
produzidas logo após a infecção viral por células residentes da glia e/ou infiltrativas
no SNC. Esses achados indicam que as diferentes linhagens de camundongos
isogênicos são susceptíveis à infecção por estirpes neuropatogênicas do EHV-1; as
diferenças no padrão de alterações histopatológicas mostram que elas dependem do
hospedeiro infectado, da estirpe viral e da resposta imunológica; e a supressão do
interferon (IFN) tipo 1 sugere ser um mecanismo de escape do EHV-1 frente ao
sistema imune. A baixa expressão de IL-6, TNF-α e da quimiocina CCL2 em
camundongos C3H/HeJ se explica pela mutação no gene toll-like receptor 4 (TLR-4)
existente nessa linhagem de camundongo. Adicionalmente, os camundongos
C3H/HeJ apresentaram lesões histopatológicas mais severas no SNC quando
comparados com BALB/c e C57BL/6. Sugere-se que o IFN tipo I e o gene TLR-4
apresentam importante papel na patogênese do EHV-1 bem como proteínas do
agente viral responsáveis pela supressão do IFN e partículas virais que sejam
reconhecidas pelo TLR-4 podem ser alvos para o desenvolvimento de novas
abordagens para o tratamento da doença viral e para a eficiência de imunógenos.