O excesso de ingestão de bebidas alcoólicas e o consumo de outras drogas nas casas noturnas e bares têm sido associados a mais episódios de agressão física, comportamento sexual de risco e violência sexual nestes ambientes. Acredita-se que fatores ambientais destes estabelecimentos e característica pessoais de seus frequentadores podem aumentar o risco da ocorrência destes eventos. Objetivando a compreensão da relação entre fatores ambientais e individuais e comportamentos de risco em baladas da cidade de São Paulo, propôs-se um estudo de métodos mistos com coletas de dados realizadas entre os anos de 2013 a 2015. Utilizou-se de uma amostra com probabilidade proporcional ao tamanho das casas noturnas, permitindo a seleção de 31 estabelecimentos. Um inquérito de portal nestes locais permitiu que 2422 sujeitos fossem sorteados sistematicamente e entrevistados à entrada das baladas. Destes, 1822 foram novamente entrevistados à saída. Nos dois momentos de entrevista foi aplicado um teste de etilômetro. Nas mesmas noites, 307 horas de observação etnográfica foram conduzidas no interior dos estabelecimentos. Em momento posterior, a partir dos contatos obtidos na fase de inquérito de portal, 8 grupos focais com frequentadores das baladas (n=34) e 31 entrevistas semiestruturadas com funcionários destes estabelecimentos foram conduzidos. Análise multinível e regressão logística multinomial ponderadas foram utilizadas para os dados quantitativos do inquérito de portal. Análise de conteúdo e tipologia foram empregadas para a análise dos dados qualitativos. Quando avaliada a prática de binge drinking no estabelecimento (medida por uma dosagem alcoólica no ar expirado de BrAC≥0,38 mg/l), constatou-se que os fatores ambientais associados a esta prática foram a venda open bar, o número de pistas de dança e a pressão sonora medida no local. No entanto, o “esquenta” (beber antes de entrar no estabelecimento) foi o preditor mais forte para a medida de binge drinking à saída. No caso do relato de consumo de drogas ilícitas, a venda open bar de álcool e efeitos luminosos aumentaram a chance deste comportamento. Por outro lado, o número de seguranças per capita e a presença de mais pistas de dança apareceram associados inversamente a este consumo. A partir dos dados qualitativos, foi possível a identificação de 4 grupos de baladas levando-se em consideração os 4 eixos temáticos avaliados: Baladas Intoxicantes, Violentas, Dançantes e Altamente Sexualizadas. O consumo abusivo de álcool foi observado em quase todos os estabelecimentos, enquanto o uso de drogas ilícitas foi observado em cerca de um terço dos estabelecimentos. A triangulação dos dados sugere que fatores ambientais estão associados a presença mais marcante de comportamentos de risco, especialmente, as estratégias e promoções de venda de bebidas alcoólicas e a oferta de ambientes destinados a práticas sexuais. O estudo evidencia que as baladas são estabelecimentos em que os comportamentos de risco se agravam pelas facilidades disponibilizadas pelo meio, bem como pela falta de legislação para restringir o abuso de álcool incentivado pelas diversas estratégias de promoção presentes nestes estabelecimentos.