A cardiologia veterinária evoluiu consideravelmente nas últimas três décadas e avanços
tecnológicos recentes possibilitaram diagnósticos sofisticados, precisos e não-invasivos por
meio de avaliações eletrocardiográfica (ECG), radiográfica e ecocardiográfica. A doença
degenerativa mixomatosa da valva mitral (DDMVM) é a condição cardíaca adquirida mais
comum em cães e possui natureza lenta e progressiva, podendo culminar em insuficiência
cardíaca. Segundo o consenso do American College of Veterinary Internal Medicine, a doença
pode ser classificada em 4 estágios (A, B – subestágios B1 e B2, C e D), levando-se em conta
as manifestações clínicas, achados radiográficos e ecocardiográficos de remodelamento
cardíaco, a presença de insuficiência cardíaca e a refratariedade a tratamentos realizados. Na
abordagem diagnóstica desta afecção, a radiografia torácica assume fundamental importância
por possibilitar a avaliação da silhueta cardíaca quanto a alterações em seu formato, análise
das estruturas pulmonares quanto a possíveis manifestações secundárias à insuficiência
cardíaca congestiva. Sugere-se também que em todos os casos suspeitos de DDMVM os
animais sejam submetidos à ECG para avaliação quanto à presença de arritmias ou
taquicardias, possíveis agravantes desta afecção; apesar deste exame não constituir um teste
diagnóstico para a DDMVM, determinadas alterações indicativas de sobrecarga atrial ou
ventricular são passíveis de detecção no traçado eletrocardiográfico, contribuindo para o
direcionamento diagnóstico desta cardiopatia. Contudo, in vivo, o diagnóstico definitivo da
degeneração mixomatosa valvar somente é obtido por meio da ecocardiografia. É conhecida
a predisposição de determinadas raças a esta condição, dentre as quais destaca-se a raça
Pinscher Miniatura, muito popular em nosso país. Até o presente momento, a literatura abriga
uma lacuna referente à avaliação cardíaca de cães da raça Pinscher Miniatura, sejam eles
hígidos ou portadores de DDMVM. Por conseguinte, o presente trabalho objetivou o estudo
epidemiológico, radiográfico e eletrocardiográfico de 31 cães da referida raça adultos, de
ambos os sexos. Os animais foram categorizados nos estágios A, o qual abriga animais
hígidos (11 cães), estágio B e seus subestágios B1 (9 animais) e B2 (9 animais) e estágio C (2
cães) da DDMVM, não sendo nenhum indivíduo classificado em estágio D. Detectou-se
insuficiência mitral em animais jovens porém assintomáticos. A doença mostrou maior
gravidade nos animais de idade mais avançada, confirmando sua natureza crônica e
progressiva. À avaliação radiográfica empírica houve tendência em se superestimar o
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tamanho de câmaras cardíacas esquerdas. O valor do vertebral heart size (VHS) máximo
definido para os animais da raça Pinscher Miniatura com dimensões cardíacas normais
correspondeu a 11,1 unidades vertebrais, valor este superior ao estabelecido previamente na
literatura para a maioria das raças caninas. Este método de avaliação da silhueta cardíaca não
se mostrou acurado para detecção de cardiomegalias nos estágios iniciais da DDMVM, nos
quais, à avaliação ecocardiográfica, os animais apresentaram apenas dilatação de átrio
esquerdo e em grau discreto. A avaliação eletrocardiográfica também não demonstrou
sensibilidade na detecção do aumento de câmaras cardíacas nos indivíduos com
remodelamento cardíaco evidenciado ao exame ecocardiográfico. A maioria dos animais
apresentou conformação torácica intermediária (65%) e os demais, conformação torácica
ampla (35%), contudo estas variações não influenciaram nas amplitudes das ondas P-QRS-T
nem nos valores de VHS. Quando equiparados aos dados existentes na literatura, os
parâmetros eletrocardiográficos de cães Pinscher Miniatura obtidos por ECG
computadorizada no presente trabalho foram similares aos obtidos em ECG convencional,
com exceção da duração da onda P e da duração do complexo QRS que se mostraram
superiores no presente estudo (valores máximos 54,33 ms e 74,33 ms, respectivamente)
corroborando com os achados de outros trabalhos nos quais a ECG computadorizada também
foi empregada. Este é um estudo pioneiro para a raça em questão; recomenda-se o
prosseguimento das pesquisas para melhor compreensão da doença degenerativa mixomatosa
da valva mitral na raça Pinscher Miniatura