A moda e a indústria têxtil constituem um dos maiores segmentos de negócios do mundo. Associada à moda, esta indústria incorpora o sistema de moda atual e, em uma simbiose, chamase a área de indústria da moda. O segmento vem sendo alvo de críticas éticas, estéticas e ambientais. Estas críticas se dirigem, principalmente, ao que se chama de “moda rápida”, ou fast fashion, um sistema de produção de alta velocidade, integrado às tecnologias de informação, que gerencia lançamentos, vendas, estoques e a manufatura de roupas, transformando fichas técnicas de peças de vestuário em um produto acabado dentro de pontos de venda em poucos dias. O fast fashion é uma consequência das dinâmicas do capitalismo global em busca do menor custo, em um menor espaço de tempo de fabricação, distribuição e venda, baseandose em trabalho precário (muitas vezes em condições análogas à escravidão), na promoção do hiperconsumo e do descarte rápido de roupas e, consequentemente, no consumo de recursos naturais em escala vertiginosa com impactos ambientais de grande extensão e, ainda, na padronização do corpo e na difusão de uma sutil homogeneização do parecer promovida pelas mídias de moda. Tais práticas se estabeleceram na moda nas últimas décadas do século XX como consequência das transformações do capitalismo global. A pesquisa mapeou e analisou as relações entre a moda e a crítica, o surgimento, a construção e as atuais configurações da crítica ética e estética ao fast fashion e as repostas que o mercado vem dando a estas críticas, assim como as propostas alternativas construídas por segmentos do mercado, em especial, o movimento slow fashion: seu conceito, ideias e propostas de produção, consumo e engajamento. A partir da análise da politização do consumo e das macrotendências, que se configuram como um pano de fundo sociocultural às tendências de consumo, verificamos a expressão destas críticas e compreendemos a incorporação destas pelo corpo social; identificamos aí uma chave explicativa para a incorporação das críticas pelo mercado de moda, corroborando com o quadro teórico de Boltanski e Chiapello (2009), que entende a incorporação das críticas como necessária à justificação moral do capitalismo e sua manutenção. Os resultados indicaram que tanto o corpo social quanto o mercado expressam e incorporam as críticas nas práticas de consumo de moda; nas formas sustentáveis de novos negócios; na criação de valor associado à economia compartilhada; na adoção da Responsabilidade Socioambiental empresarial e da ética nos negócios; nas alterações em processos produtivos e no uso de matérias primas menos impactante. Verificamos também que, como uma incorporação das críticas e como contraponto às práticas hegemônicas de produção e consumo, o movimento “moda lenta”, ou slow fashion, propõe não apenas a desaceleração do tempo de produção e consumo de roupas, mas também uma proposta de empoderamento e ativismo político na área do design de moda, tanto na produção quanto no consumo. Desta maneira, a pesquisa identificou a existência de alterações no setor em função das críticas e, também, chaves explicativas para as transformações em curso e a crescente
eticização da moda.