A hanseníase é uma doença negligenciada, com alto poder incapacitante, e o Brasil ainda não conseguiu eliminá-la. Objetivou-se analisar o grau de incapacidade física em casos novos de hanseníase em uma Unidade de Referência no Pará, diagnosticados no período de janeiro de 2005 a dezembro de 2014. Trata-se de um estudo epidemiológico, retrospectivo e analítico, cuja amostra final foi constituída por 323 prontuários, de onde foram coletadas variáveis referentes à situação sociodemográfica, clínicas e presentes no momento do diagnóstico. Utilizou-se o teste qui-quadrado (X²) e o cálculo da Razão de Prevalência (RP) para verificar a força de associação entre as variáveis, adotando-se um nível de significância de 5% (p<0,05) e intervalo de confiança - IC=95%. Houve predomínio do sexo masculino em 58,5% dos casos, com média de idade de aproximadamente 38 anos; baixa escolaridade, com 64,4% possuindo o ensino fundamental; 72,7 % sobrevivem com renda familiar de 1 a 3 salários mínimos, sendo a maioria 75,5% procedente da mesorregião metropolitana de Belém. Quanto à classificação operacional, a predominância foi multibacilar em 77,1%, com a forma dimorfa em 60,1% dos casos. O percentual de casos em menores de 15 anos foi elevado, com 13,3%. Constataram-se graus de incapacidade física 1 e 2 em 28,1% dos casos, e que o grau 2 de incapacidade apareceu em mais de 10% da amostra. As variáveis (sexo, faixa etária, nível de escolaridade, procedência, renda, forma clínica, classificação operacional, número de nervos afetados, baciloscopia, episódios reacionais e tipos de reações) associaram significativamente (p<0,05) com o GIF 1 e 2. Sendo que as variáveis número de nervos afetados, classificação operacional e renda foram as que possuíram a maior força de associação com a variável desfecho, aumentando em 17, 7.2 e 5.7, respectivamente, a prevalência das incapacidades físicas. Conclui-se que o diagnóstico da hanseníase é tardio e que a instalação das incapacidades físicas sofre influência dos determinantes sociais. É necessário o setor de saúde se somar aos demais setores da sociedade no combate às iniquidades sociais, bem como potencializar os investimentos em educação em saúde, para que os profissionais e a população possam reconhecer precocemente os sinais e sintomas da doença, e assim evitar complicações.