PORTELA, J. R. Michel Foucault e a constituição do corpo e da alma do sujeito moderno
no curso “Os Anormais”. Santos, 2016. 166 pp. Dissertação (mestrado). Universidade Federal
de São Paulo/ UNIFESP – campus Baixada Santista, 2016.
Michel Foucault estuda o corpo e alma do sujeito moderno, interpenetrados de história,
enquanto elementos-chave na constituição de amplos processos de subjetivação e da
constituição histórica de nós mesmos. Foucault releva como história os eventos e marcos deste
corpo e assim, passa a rastreá-los, através de um estudo minucioso, revelando-os elementos de
incidência de macroprocessos históricos, apropriados por uma complexa série de articulações
estratégicas de saberes e de poderes. Esta pesquisa estuda as concepções de corpo e alma no
curso “Os Anormais” no Collège de France (1974-1975), pesquisando a genealogia das três
figuras que marcaram o registro da noção de anormalidade no período correspondente ao século
XVI ao século XIX na França: monstro, o indivíduo a ser corrigido e o onanista. Nesse sentido,
buscou-se fazer uma cartografia das categorias de corpo e alma nos processos práticodiscursivos
que constituíram a noção de anormal. A partir dessas ferramentas, procurou-se
refletir e problematizar sobre o impacto dessas práticas discursivas na contemporaneidade.
Parte-se da hipótese que interroga qual contribuição dos elementos de corpo e alma no curso
para compreensão do processo de constituição do sujeito moderno. Assume assim uma
perspectiva hipotética que tais elementos com suas propriedades corpóreo-anímicos tenham
contribuído para produção do indivíduo anormal. Verificou-se nessa investigação os elementos
de corpo alma em suas diferentes manifestações para constituição do sujeito moderno. Nesse
sentido foram relevados os seguintes elementos: o sujeito, o exame, o monstro, o onanista, o
incorrigível e o anormal. Os sujeitos das práticas divisoras com suas diferentes demarcações
discursivas que possibilitaram o desenvolvimento de nova tecnologia da alma e a reorganização
do mecanismo punitivo moderno. O exame destacou-se como uma tecnologia da alma, peça
fundamental na produção desses sujeitos e na instauração de uma nova mecânica do poder de
punir. Em suas diferentes conformações constituiu-se a tecnologia positiva do anormal no
século XIX. O monstro, em suas múltiplas formas e diferentes corporificações que desafiaram
as leis naturais, divinas e civis. Contudo, ao mesmo tempo ofereceu novos parâmetros para uma
mecânica punitiva ou tecnologia de controle que tomou suas representações monstruosas como
objeto de investimento. O onanista, alvo das tecnologias dos exames com seus efeitos de
normatização sobre os corpos da bruxa, da possuída e da criança masturbadora. A cruzada
antimasturbação catalizadora da constituição da família nuclear e da ingerência da medicina
sobre as relações intrafamiliares. O corpo do onanista destacou-se como campo de embate do
poder de normalização sobre a sexualidade. O indivíduo incorrigível enquanto figura universal
que escapa modulação familiar. Contudo, desperta a partir do corpo indócil um conjunto de
técnicas e práticas docilizadoras em torno de instituições disciplinadoras. Destacando-se ainda
o indivíduo incorrigível em correlação com a técnica do internamento. E, por fim, o Anormal –
Charles Jouy, atravessado pela técnica do exame. O anormal que, a partir da noção de estado
permanente, vai integrar diferentes corporificações estigmatizadas na constituição de uma
anormalidade. O anormal que, ancorado na infância, possibilitará a generalização da psiquiatria
como ciência do anormal e técnica da higiene pública.