A natureza pública, universal e descentralizada do sistema de saúde brasileiro exige políticas específicas que garantam melhorias da qualidade das ações de saúde. Nessa direção, equacionar as questões de recursos humanos é fundamental. As Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Medicina sinalizam o perfil do médico a ser formado e as competências gerais e específicas que devem ser desenvolvidas. Então, faz-se necessário aproximar-se das unidades de ensino, conhecendo a realidade, identificando avanços e retrocessos e subsidiando o planejamento de metas institucionais. Com origem nisso, este estudo analítico com abordagem qualitativa, do tipo estudo de caso, se propôs analisar a formação médica da UECE com suporte na percepção dos agentes sociais envolvidos. A coleta de dados ocorreu com a aplicação de um questionário adaptado aos objetivos estabelecidos. Participaram 19 professores e 38 alunos. Os dados qualitativos foram analisados por meio da Análise Temática, de Minayo, ensejando a demarcação de cinco eixos temáticos: Aspectos Gerais da Formação; Abordagem Pedagógica; Cenários de Prática; Produto da formação; e Mundo do Trabalho. Observou-se que o corpo docente é empenhado com a formação médica, mas está em número insuficiente. O corpo discente consegue, com muita dedicação e compromisso, suprir os desafios encontrados no curso. Quanto à infraestrutura, alunos e professores participantes indicam que salas de aula e laboratórios de práticas precisam ser melhorados. O currículo aborda conteúdos técnicos, sociais e humanísticos para a formação de médicos generalistas, mas ainda se estrutura em uma matriz por disciplinas especializadas e exige do aluno o cumprimento de uma carga horária excessiva. Sobre a inserção das disciplinas básicas e da saúde coletiva, chama à atenção a necessidade de abordar esses temas de modo mais prático, correlacionando com as discussões clínicas. A metodologia de ensino é tradicional, com aulas teóricas eminentemente expositivas. Quanto aos cenários de práticas, usa os diversos serviços públicos locais da rede de assistência à saúde, inserindo o discente nos vários níveis de complexidade do trabalho médico. Faz-se necessário, no entanto, estabelecer programações pedagógicas e contratualizações que garantam, na prática, a qualidade e o acompanhamento do ensino em serviço. Quanto às expectativas profissionais, os estudantes anseiam por um perfil de médico tecnicamente capacitado e atualizado, resolutivo, humano e ético. A maioria
planeja atuar na atenção básica no início da carreira e, em seguida, buscar especialização em outras áreas, trabalhando no SUS e nos serviços privados. Reconhecem as potencialidades da Medicina de Família e Comunidade, mas a falta de identidade com a especialidade, sua desvalorização e as condições de trabalho na atenção primária desestimulam a trilha por este caminho. Com base em todos os aspectos discutidos, os participantes relatam que, apesar de ser bem avaliado nas avaliações formais de programas educacionais, a ensino médico da UECE ainda está em decurso de implementação e necessita de adequações; no entanto, se esforça em promover a formação de médicos generalistas, capazes de gerenciar o cuidado com apoio na integralidade e na interdisciplinaridade.