Diante de tantos e diferentes tratamentos para os dependentes de substâncias psicoativas, interessou ao estudo dar voz aos pacientes nos Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas/CAPS ad da capital paulista. Esta pesquisa qualitativa com 40 usuários teve como objetivo analisar as razões que os levaram a iniciar, a permanecer ou a abandonar o tratamento. As três unidades indicadas pela coordenação municipal de saúde mental são geridas por organizações sociais. A primeira fase da coleta, na entrada, com análise de conteúdo de entrevistas indica perfil sócio demográfico heterogêneo. Mais de 50% da amostra apresentava tratamentos prévios. As drogas principais foram cocaína/crack e álcool. A maioria falou em seguir a abstinência total, alguns incorporaram a redução de danos. A busca pelo tratamento foi motivada por culpa, perdas e desejo de resgatar a dignidade e o próprio respeito. Nesse sentido, essas razões devem ser mais exploradas pela equipe, pois, além de verificar a relação que os pacientes estabelecem com as substâncias psicoativas, podem tentar desvelar os sentidos que atribuem ao tratamento e, dessa forma, pensar abordagens terapêuticas mais eficientes. Muitos pacientes sentiam necessidade de medicação para aliviar a síndrome de abstinência ou criar aversão às drogas. Foi notória a participação da família no tratamento, a qual aparece como fonte de apoio e cobrança; A maioria não sabia com clareza a dinâmica do CAPS ad. Muitos mostraram uma tendência para transferir as responsabilidades do tratamento, porém outros tinham a expectativa de participar mais ativamente do seu processo e esperavam traçar novos caminhos com o suporte ofertado. Assim, deve-se ter atenção a demanda que o paciente traz e estimular sua autonomia. Em relação ao atendimento inicial, as impressões foram boas, mas não o suficiente para manter as pessoas no tratamento. Através da análise de prontuários, verificou-se que apenas 4 sujeitos aderiram. Esses dados indicam que outros aspectos para a adesão devem ser investigados, como as fragilidades dos serviços e a cultura dos sujeitos em “não apontar erros/não caguetar”. Deverão ser prioritárias a continuação ou o início de novas pesquisas voltadas para o estudo do tratamento nas instituições para pensar novas intervenções, especialmente para o primeiro mês de tratamento, período em que houve o maior abandono, assim como, estratégias de cuidado mais eficientes ao longo de todo o processo; Por fim, é necessário fortalecer tanto as relações com a comunidade, a fim de estimular um diálogo que possibilite minimizar estigmas e preconceitos, quanto as relações com outros serviços, como os albergues que, embora estejam muito presentes na vida do público entrevistado, não conseguem manter o indivíduo acolhido. A segunda etapa, após 3 meses, não pôde ser avaliada principalmente por falta de contato e também pela recusa dos sujeitos.