Esta tese tem como objetivo geral compreender como os enunciados constituídos na/pela verbo-visualidade como plano de expressão, presentes em duas coleções de livros didáticos de Língua Portuguesa (LDP) do Ensino Fundamental, podem colaborar para a formação de um leitor crítico, nessa fase de ensino em que as capacidades leitoras estão em pleno desenvolvimento. O corpus foi constituído por duas coleções destinadas ao 3º e 4º ciclos (6º ao 9º anos) do Ensino Fundamental, a saber: Para viver juntos: português, da Editora SM, e Português: linguagens, da Editora Saraiva, editadas em 2012, indicadas pelo Programa Nacional do Livro didático – PNLD – (BRASIL, 2013) e selecionadas a partir da escolha de professores de Língua Portuguesa de duas escolas públicas de Cuiabá-MT. O interesse pelo assunto foi motivado pelos resultados advindos da pesquisa de Mestrado em Estudos da Linguagem, realizada na UFMT (COSTA, 2011). Nela, os objetos constituídos foram os LDP do Ensino Médio para compreender como a inserção de gêneros que aliam as materialidades verbal e visual em sua composição contribuía para a formação leitora de jovens estudantes dos anos finais da educação básica. Observou-se, na dissertação, a escassez de gêneros visuais e verbo-visuais em atividades específicas de leitura e sua abordagem revelou-se pouco profícua para a mobilização de capacidades leitoras para as suas especificidades. Nesta investigação, dando continuidade aos estudos iniciais, tomou-se como objeto o LDP do Ensino Fundamental. Partiu-se da hipótese de que as abordagens dos gêneros discursivos que se constituem no/pelo plano verbo-visual, presentes nas coleções do Ensino Fundamental, não colaborariam para a formação leitora dos jovens estudantes desse nível de ensino. Defende-se a tese de que considerar a dimensão verbal e a visual de um enunciado como única e indissolúvel, nas abordagens de leitura referentes aos gêneros discursivos verbo-visuais, no projeto didático-pedagógico dos livros didáticos selecionados, contribuirá para um bom trabalho de formação leitora dos jovens estudantes que tiverem acesso a esses livros na educação básica brasileira. Para tanto, fundamenta-se o trabalho na teoria dialógica da linguagem de Bakhtin e o Círculo, nas concepções de enunciado concreto, relações dialógicas e compreensão ativa e criadora, aliando-os aos estudos sobre a dimensão verbo-visual do enunciado desenvolvidos por Brait (2009; 2012). Trata-se de uma pesquisa de análise documental de abordagem dialógica. Para desenvolvê-la, foram analisados os gêneros discursivos constituídos no/pelo plano verbo-visual inseridos nos objetos selecionados, buscando observar de que forma sua abordagem pode contribuir para a formação de alunos que respondam às demandas leitoras do mundo contemporâneo. Dessa maneira, buscou-se resposta para as seguintes questões de investigação: 1. Quais gêneros discursivos constituídos no/pelo plano verbo-visual estão presentes em duas coleções de LDP do 6º ao 9º anos do Ensino Fundamental? 2. Como se dá o tratamento da materialidade verbo-visual nos LDP selecionados? 3. Como o tratamento da materialidade verbo-visual, nas atividades selecionadas, pode contribuir para a compreensão ativa e criadora do texto e para o desenvolvimento de capacidades leitoras para as especificidades de um enunciado verbo-visual? Este trabalho justifica-se pela necessidade de refletir sobre o lugar da verbo-visualidade nos livros didáticos de Língua Portuguesa e na formação leitora de jovens estudantes das escolas brasileiras. O resultado das análises apontou para a escassez de enunciados verbo-visuais em atividades específicas de leitura, revelando que a sua inserção em atividades cujo objetivo seja a formação leitora do aluno pouco contribui para o reconhecimento da dimensão verbo-visual do enunciado como indissolúvel, o que inviabiliza o desenvolvimento de capacidades especiais para a leitura de enunciados verbo-visuais. Diante de tal resultado, formulou-se uma atividade de prática de leitura como contribuição desta investigação ao professor e aos pesquisadores da área de ensino de língua materna e como proposição de um caminho possível para o ensino-aprendizagem de leitura crítica, a partir da observação e consideração da materialidade verbo-visual do enunciado como indissolúvel, possibilitando, desse modo, o desenvolvimento de capacidades para a sua compreensão de forma ativa e criadora