Introdução: Durante os últimos 20 anos houve um crescente reconhecimento dos quadros de depressão em crianças e adolescentes. O quadro frequentemente ocorre na mesma família e está associado com o aumento da morbidade e altos índices de suicídio, com alto impacto social, consequentemente levam a altos custos em saúde pública. A identificação precoce e tratamento efetivo podem reduzir o impacto da depressão na família, na sociedade, no funcionamento acadêmico, reduzir o risco de suicídio, o abuso de drogas, assim como a persistência do transtorno na vida adulta. Algumas evidências científicas que sustentam intervenções para o tratamento da depressão na infância e na adolescência emergiram nos últimos 15 anos, sendo a maior parte realizada com a terapia cognitiva comportamental e devido aos índices de remissão parcial e necessidade de tratamentos de reforço com esta abordagem clínica, faz-se preciso um estudo abordando e comparando ensaios clínicos com outras abordagens, a fim de estabelecermos novos guias de conduta e melhorarmos o prognóstico desses pacientes. Através de uma revisão sistemática de ensaios clínicos controlados que avaliaram a eficácia das abordagens clínicas usadas no tratamento da depressão em crianças e adolescentes procuramos avaliar estas abordagens. Método: Foi realizada uma busca nas principais bases de dados de literatura científica por ensaios clínicos controlados, randomizados, comparando Psicoterapia para depressão na Infância e Adolescência versus outras formas de tratamento para depressão na mesma faixa etária, definida pelos critérios diagnósticos do DSM-III-R e DSM-IV, utilizando os seguintes descritores: ((("depression") OR "depressive disorder") OR "major depressive disorder") AND "psychotherapy") OR "psychological treatment" NOT Behavior Therapy NOT Cognitive Therapy NOT Cognitive-behavior therapy) AND "randomized controlled trial"))). Foram selecionados ensaios clínicos que preencheram os critérios de inclusão e exclusão pré-estabelecidos relacionados a qualidade metodológica e características mínimas requeridas para um ensaio clínico. (Jadad 1996). Principais medidas de desfecho: Índice de resposta (redução de 50% do escore inicial em escala de avaliação da depressão), proporção de indivíduos que atingirão resposta em cada grupo, índice de remissão (redução dos escores a níveis pré-estabelecidos
ix
na literatura para cada escala usada), proporção de indivíduos que atingiram a remissão em cada grupo estudado, taxas de abandono (serão usadas as proporções de abandonos de tratamento em cada grupo). Serão usados a diferença média dos escores nas escalas de avaliação de sintomas depressivos em cada grupo. Usualmente, como os estudos envolvidos apresentam tamanhos de amostras pequenos e/ou taxas de evento nos grupos muito baixos, o método de Mantel-Haenszel de análise foi o indicado. Resultados: Dos 575 títulos encontrados na primeira busca, 19 preencheram critérios e foram analisados metodologicamente, 6 preencheram os critérios de inclusão para esta revisão sistemática e fazem parte da revisão qualitativa do estudo, 4 deles fizeram parte de uma revisão quantitativa a metanálise. Os 4 estudos encontrados envolveram Terapia Interpessoal para Adolescentes deprimidos (IPT-A) comparados a uma intervenção controle. Os resultados combinados são significativos, a análise indicou eficácia, melhora dos sintomas e remissão pós tratamento. Houve melhora da depressão principalmente na diminuição dos sintomas depressivos, melhora no desenvolvimento global e social e fortes indícios de melhora na capacidade de resolução de problemas interpessoais. As chances de remissão foram significativamente mais observadas no grupo experimental envolvendo IPT-A que nos grupos controle. Conclusões: IPT-A é uma psicoterapia baseada em evidência de eficácia no tratamento de adolescentes entre 12 e 18 anos com transtorno depressivo. Embora exista um campo de estudos em Terapia familiar e outras terapias psicodinâmicas (individual ou grupo) para crianças e adolescentes deprimidos de eficácia reconhecida no meio clínico, ainda são estudos que se demonstraram pouco estruturados e metodologicamente frágeis. Não foram encontrados estudos com pacientes deprimidos com menos de 9 anos de idade. Não foram encontrados estudos comparativos de psicoterapia (não TCC) e medicação, dentro dos critérios metodológicos pré-estabelecidos. Ainda é atual a lacuna existente entre a utilização da psicoterapia e a necessidade de tratamento nos serviços de saúde mental, traçando um caminho claro e urgente à demanda de pesquisas na área.