O consumo excessivo e descontrolado do álcool apesar das consequências legais, econômicas ou sociais envolvidas, caracteriza uma condição denominada “Desordem no uso de álcool”, ou alcoolismo. O álcool é uma das poucas drogas psicotrópicas (com potencial de abuso ou dependência) que tem seu consumo admitido e até incentivado. Nos últimos 20 anos, essa desordem passou de oitavo para quinto principal fator de risco para a mortalidade precoce e incapacidade na população mundial, sendo responsável por 2,5 milhões de mortes em todo o mundo no ano de 2010. Clinicamente, o consumo ocasional e controlado de uma droga psicotrópica é distinto do seu uso escalonado e sem controle. A progressão do uso controlado à adição é influenciada por muitos fatores, entre eles, a droga por si, fatores psicológicos, influências ambientais e fatores genéticos. Com o objetivo de tentar elucidar os fatores genéticos que possam predispor ou contribuir para o desenvolvimento do comportamento de consumo compulsivo e sem controle do álcool, avaliou-se o transcriptoma estriatal de um modelo murino de consumo crônico e por livre escolha de etanol. Neste modelo, após 16 semanas de consumo crônico de etanol, os animais foram subdivididos em três grupos, de acordo com seu perfil de consumo da droga: “Grupo leve” (preferência por água em todo o experimento); “Grupo pesado” (preferência pelo etanol com redução significativa no consumo quando a droga é adulterada por quinino); “Grupo Inflexível” (preferência pelo etanol e consumo excessivo, mesmo após a adulteração da solução etílica). Através da técnica de microarranjo, foram comparados os níveis de transcritos desses animais em uma região cerebral denominada estriado, a qual é responsável pelos mecanismos de reforço positivo e formação de hábito, processos diretamente afetados durante a progressão da doença. Através das análises de expressão verificou-se que diversos genes constituintes da via LRRK2 in neurons in Parkinson’s disease estão desregulados entre os diferentes grupos de animais, e que, unicamente o gene Lrrk2, quinase reguladora desta via, se mostrou hiper-regulado apenas nos animais do grupo inflexível. Este gene é responsável por controlar processos neuronais como receptação de proteínas sinápticas, plasticidade e desenvolvimento de espinhos sinápticos. A validação funcional deste gene mostrou que animais knockout para o gene Lrrk2 apresentam, em comparação com animais selvagens, uma maior preferência e um maior consumo espontâneo de etanol, uma maior motivação para buscar e consumir a droga, um consumo do tipo inflexível compulsivo, um maior estado basal de ansiedade e uma menor sensibilidade inicial aos efeitos hipnóticos do etanol. Em conjunto, esses dados corroboram o gene Lrrk2 (ou seu produto proteico) como um importante substrato molecular responsável pela consolidação do consumo compulsivo e sem controle de etanol.