Silva EA. Avaliação e monitoramento dos contatos intradomiciliares de pacientes com hanseníase: sorologia para detecção de anticorpos anti-PGL-I e avaliação da reatividade a proteínas recombinantes do Mycobacterium leprae [doutorado]. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo; 2016.
A hanseníase, doença crônica de alta infectividade e baixa patogenicidade, manifesta-se por meio de sinais e sintomas dermato-neurológicos, podendo acarretar incapacidades físicas e deformidades. A estratégia da eliminação da hanseníase é baseada na detecção de casos na fase inicial da doença e na efetividade do tratamento poliquimioterápico. Para auxiliar no diagnóstico oportuno da doença, testes sorológicos têm sido desenvolvidos. Deste modo, este estudo tem por objetivos: I validar a utilidade do teste rápido anti-proteína recombinante de fusão LID-1 associada ao dissacarídeo sintético ND-O do glicolipídeo fenólico-I (PGL-I), em trabalho de campo; II identificar o número de casos de hanseníase diagnosticados em Rondonópolis-MT, durante cinco anos de seguimento dos contatos intradomiciliares a partir do momento do diagnóstico do caso índice, por meio de exames clínicos e sorológicos (IgM anti PGL-I e IgM/IgG anti-ND-O-Lid-1).
No período de 2009 a 2010, em Rondonópolis-MT, foi realizada busca ativa de casos novos de hanseníase e de seus contatos intradomiciliares. A partir deste trabalho, no presente estudo utilizamos amostra de soros, dados clínico e epidemiológico de: casos novos de hanseníase diagnosticados e classificados pelos critérios baciloscópico, histológico e clínico (n=174); contatos intradomiciliares que residiam com os casos índices no diagnóstico ou nos últimos cinco anos (n=409); indivíduos de área endêmica sem diagnóstico e história familiar de hanseníase (n=53); pacientes com diagnóstico de tuberculose pulmonar (n=12). Os contatos intradomiciliares foram seguidos (n=186) pelo período de cinco anos. A coleta de sangue por punção venosa e sem anticoagulante foi feita para ensaios sorológicos no momento do diagnóstico e no seguimento dos cinco anos, além do exame dermato-neurológico. Para o ensaio imunoenzimático para detecção de anticorpos anti-PGL-I (ND-O-BSA) foram considerados positivos D.O. ≥ 0,150 e para o immunodot anti-ND-O-LID-1 a positividade foi dada em cruzes (0,5+, 1+, 2+, 3+). Os xxiv resultados de detecção sérica de anticorpos estratificados por forma clínica (43 tuberculóide, 63 dimorfo-tuberculóide, 30 dimorfo-dimorfo, 12 dimorfo-virchowiano, 07 virchowiano, 19 indeterminada), revelaram maior positividade para o teste rápido bem pacientes MB: 100% para VV e DV e 73,33% para DD. Indivíduos PB apresentaram 7,20% de positividade no teste rápido. A positividade do anti-PGL-I por ELISA entre os 409 contatos foi baixa (3,17%) e ao teste rápido anti-ND-O-LID-1 foi de 14,66%, sendo nove amostras positivas 1+ e 51 positivas 0,5+. Na primeira avaliação, nove (2,20%) contatos foram diagnosticados com hanseníase, sendo seis com sorologia negativa para ambos os testes, dois 0,5+ para o LID-1 e negativo para PGL-I, e um 1+ para LID-1 e PGL-I positivo. Ao se comparar todos pacientes foi obtida correlação r2 = 0,8444 indicando boa concordância dos testes sorológicos. Correlação r2= 0,7382 foi encontrada entre resultados do ND-O-LID-1 e índice baciloscópico da lesão dos pacientes MB. Os resultados mostraram que os níveis de anticorpos anti-ND-OBSA pela técnica de ELISA correspondem aos resultados semi-quantitativos de anti-ND-O-LID-1 pelo teste rápido. O exame clínico de contatos intradomiciliares mostrou ser um bom procedimento para busca ativa de casos, pois detectou casos novos de hanseníase em 2,2% dos contatos examinados. O seguimento dos contatos intradomiciliares durante cinco anos possibilitou a detecção de 3,67% de casos novos entre os contatos. A quantificação de anticorpos por ambas técnicas pode ser utilizada como ferramenta laboratorial para indicar exposição ao M. leprae em contatos. A soropositividade pode indicar infecção pelo M. leprae, sem haver necessariamente desenvolvimento da doença. Todas estas observações nos permitem concluir que indivíduos com sorologia positiva devam ser acompanhados por períodos mais longos, além do recomendado pelo Programa de Controle.