Objetivo: avaliar a prevalência de comportamentos sexuais de risco, aborto, disfunções sexuais, crimes e fatores associados em uma amostra de usuários de álcool e outras drogas não injetáveis internados em uma unidade especializada para tratamento da dependência química. Material e Métodos: trata-se de um estudo de corte transversal, utilizando-se um instrumento estruturado, aplicado em admissões consecutivas, contendo dados sociodemográficos, características relativas ao comportamento sexual e escalas para avaliar a presença de sintomas de disfunção sexual, nível de dependência de substâncias psicoativas, impulsividade, screening de dependência de sexo. Resultados: uma amostra de 616 pacientes, dos quais 82,5% são homens, 51,9% solteiros, 54,5% brancos, 71,4% têm renda familiar de 1 até 3 salários mínimos, 47,3% têm menos de 8 anos de estudo, em 49,4% o crack foi a droga de escolha. A disfunção sexual foi comum tanto em homens (37,2%) quanto em mulheres (34,2%), com taxas semelhantes de prevalência em ambos os sexos. Quanto maior o nível de dependência de substâncias psicoativas, maior as chances de apresentar disfunção sexual. Especialmente, o nível elevado de dependência de nicotina esteve associado à disfunção sexual em mulheres usuárias de substâncias psicoativas, aumentando em cerca de duas vezes as chances de disfunção sexual. Nas amostras de mulheres, não houve diferenças estatísticas entre as prevalências de disfunção sexual investigada através de uma escala padronizada e uma única pergunta direta sobre dificuldade/disfunção sexual. Entre os homens, a ejaculação precoce (53,2%) foi a disfunção sexual mais comum, sendo que 89,8% daqueles quem têm queixas sexuais nunca buscaram ajuda médica para tal disfunção. Vários comportamentos sexuais de alta vulnerabilidade, como troca de sexo por drogas, sexo com profissional de sexo e múltiplas parcerias sexuais, estiveram associados com o nível de dependência de substâncias psicoativas, aumentando as chances de comportamento sexual de risco. O álcool e a cocaína foram as drogas de escolha que estiveram mais associadas a comportamentos sexuais de alta vulnerabilidade, e não o crack, como se esperava inicialmente encontrar neste estudo. Metade da amostra de usuários de crack tende a não usar preservativo, especialmente os homens. Os três principais motivos
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relatados para o não uso de preservativo foram o fato de ter parceria sexual fixa, crenças de diminuir a sensibilidade e muito excitado para colocar o preservativo. Em ambos os sexos, o não uso de preservativo esteve associado com níveis mais severos de dependência de substâncias. Nesta amostra, o histórico de crime (32%) esteve associadocomvários comportamentossexuaise àgravidade dadependência de substâncias psicoativas. A prevalência de aborto induzido nesta amostra foi de 26,8% e esteve associada significativamente com níveis de dependência de substâncias psicoativas e com comportamentos sexuais de risco. O uso de tabaco está positivamente associado à orientação sexual (p=000,27). Ainda 23,9% foram triados como possíveis dependentes de sexo. Conclusões: dependentes de substâncias psicoativas têm variados comportamentos sexuais de alta vulnerabilidade sexual e prevalências de disfunção sexual e crimes relacionados ao nível de dependência e aos problemas com álcool e outras drogas.