As doenças do trato digestório nos equinos apresentam altas taxas de morbidade
e mortalidade, com diferentes etiologias. Em alguns casos, o emprego da biopsia
intestinal se faz necessário para auxílio no diagnóstico dessas enfermidades. No
entanto, as técnicas convencionais podem trazer riscos aos pacientes, por serem
invasivas, ou não serem elucidativas por apresentarem limitações de acesso a
determinados segmentos. O presente estudo teve como objetivo validar uma
técnica de biopsia intestinal, intracorpórea, assistida por videolaparoscopia, ainda
não descrita na literatura, para coleta de fragmentos de mucosa de jejuno e cólon
menor de equinos, que sejam considerados adequados para avaliação
histológica. Para tanto, foram utilizados seis equinos machos, da raça Puro
Sangue Árabe, com idade de dois anos, sem histórico prévio de doenças do trato
digestório, com peso médio de 267 kg. Todos os animais foram submetidos ao
mesmo procedimento laparoscópico, instituindo-se apenas jejum alimentar prévio
de oito horas. Os equinos foram acompanhados com exame físico e de
ultrassonografia abdominal, desde o dia precedente às laparoscopias, até o 15º
dia do período pós-operatório, bem como avaliados por meio de hemograma,
provas de funções hepática e renal, e análise do líquido peritoneal nos dias 0, 1,
2, 3, 5, 7, 10, 14, 21 e 30. O tempo cirúrgico foi cronometrado, sendo registrado o
tempo total, iniciado na criação do primeiro portal de acesso e finalizado ao
término da sutura de pele, e os tempos parciais para biopsia de jejuno e cólon
menor separadamente, com início na apreensão do segmento intestinal e término
quando constatada a polimerização da cola cirúrgica sobre o orifício de acesso
da agulha. De cada segmento obtiveram-se dez fragmentos, e posteriormente
submetidos à análise histológica. Atribuiu-se escore para cada um deles, sendo
considerado “0” fragmentos com qualidade ruim; “1” para qualidade boa e “2”
para qualidade ótima. Por sua vez, os considerados viáveis foram somente os
que se enquadraram nos escores 1 e 2. Amostras avaliadas como adequadas apresentaram no mínimo 50% dos fragmentos viáveis. A média do tempo total de
procedimento foi de 66,50 minutos (± 7,87), enquanto a média do tempo parcial
para biopsia de jejuno foi de 14,2 minutos (± 4,3) e a de cólon menor 12,7
minutos (± 5,0). Clinicamente, os animais apresentaram desconforto abdominal
nas primeiras 48 horas. Os exames ultrassonográficos do abdômen não
revelaram alterações condizentes com peritonite ao longo de todo experimento.
Os parâmetros laboratoriais apresentaram apenas características inflamatórias,
sendo que o líquido peritoneal permaneceu alterado até o 21º de pós-operatório,
havendo normalização de todos os seus valores no 30º dia do estudo. Na
inspeção laparoscópica de dois equinos (E2, E4) foi identificada aderência de
porção de omento no diafragma. Nas avaliações histológicas de jejuno, uma
amostra (E5) de seis foi considerada inadequada, com 5/12 fragmentos viáveis, e
em cólon menor, duas (E1, E2) de seis, foram inadequadas, com 4/9 e 5/10
fragmentos viáveis respectivamente. A nova técnica de biopsia intestinal
possibilitou a coleta de amostras adequadas de mucosa para análise histológica,
de forma segura para os animais, uma vez que as alterações clínicas e
laboratoriais foram aquelas relacionadas ao processo inflamatório, compatível
com procedimentos laparoscópicos na espécie.