Tendo presente o processo de escolarização, o aparelho ideológico e sua influência na reprodução das desigualdades sociais e o livro didático de filosofia, com suas limitações, consideramos: a escola como local destinado à transmissão dos conhecimentos e da cultura às novas gerações; as estruturas ideológicas como dominantes, já que se apropriam do processo de formação do sujeito, e o ensino da Filosofia, como atitude crítico-reflexiva, além de esforço doutrinário. A questão desta investigação foi assim formulada: quais as possibilidades, mediante o uso do livro didático de filosofia, da passagem do conhecimento meramente subjetivo, fragmentário, particular, ambíguo, do senso comum à consciência filosófica? Os objetivos consistem em: analisar os manuais didáticos, especificamente os de filosofia para o ensino médio, visando a passagem do conhecimento do senso comum acrítico à consciência filosófica; compreender como o processo de escolarização está sujeito ao acesso dos instrumentos de elaboração do conhecimento e verificar como o acesso dos escolares aos conteúdos, especificamente os de filosofia, contribuem na construção dos conceitos, na compreensão da realidade e na formação integral. A metodologia de investigação utilizou referências bibliográficas, artigos científicos, teses de doutorado, documentos oficiais da Educação, bem como os próprios livros didáticos de filosofia. Como resultado, constatou-se que o Estado, na forma da lei, passou a controlar o processo tanto de planejamento quanto de compra do livro didático, de modo que esse material tornou-se uma questão de interesse capital às editoras. Observou-se, por outro lado, que o livro didático é fruto de um determinado contexto cultural, responsável por transmitir, implicitamente, os conteúdos, os valores e os costumes dos grupos dominantes, o que pode configurar, em boa parte, ações que desfavorecem os escolares na construção dos conhecimentos em conceitos, expressos numa linguagem mais científica, rigorosa, radical, de conjunto, prejudicando a tomada de consciência filosófica da realidade. Desse modo, conclui-se que a relação entre o Estado, enquanto controlador do livro didático de filosofia, e a indústria editorial, enquanto extensão dos interesses do sistema capital, modelam uma proposta de formação do sujeito que colabora na manutenção e no controle das dimensões social, cultural, econômica e política dos estudantes, por meio do empobrecimento da formação humana mediante o acesso a um processo de escolarização limitado pela dimensão simbólica do livro didático de filosofia, enquanto agente formador, impondo conteúdos ideológicos previamente selecionados e estruturados. Por outro lado, os livros didáticos apontam também aspectos positivos, tais como a exigência de uma maior qualificação profissional do professor na busca de uma prática docente diferenciada, pois, no processo de escolarização, é ele quem sabe diferenciar, com maior clareza, o que é relevante na construção do conhecimento individual e coletivo na passagem do senso comum à consciência filosófica dos alunos, ao mesmo tempo que integra interdisciplinarmente o estudo da Filosofia com os conhecimentos de História, de Geografia, de Sociologia, de Antropologia e de Política, disciplinas que integram a grande área do conhecimento chamada de Ciências Humanas e suas Tecnologias, de modo que corrobore para a plena formação do cidadão.