Introdução: Leiomioma uterino é um tumor benigno comum em mulheres em idade reprodutiva. É considerado um problema de saúde pública, uma vez que o tratamento cirúrgico é o procedimento mais eficaz, seguido do tratamento hormonal que apresenta grande recidiva. É uma afecção ginecológica hormônio dependente. Diante deste cenário, a possibilidade de testar novas drogas para modular seus efeitos nos levou a testar o inibidor de proteases, EcTI, extraído da planta Enteolobium contortisiliquum, como um modulador desta afecção, uma vez que EcTI mostrou-se um eficaz agente antitumoral em diversas linhagens estabelecidas de câncer. Desta forma, avaliamos a ação de EcTI sobre a via de adesão focal, tendo como alvo as proteínas Src/FAK e p130Cas e, como consequência, investigamos proteínas cruciais dos processos ciclo e morte celular. Métodos: Utilizamos a cultura primária de células miometriais extraídas de mulheres com leiomioma e seus respectivos tecidos adjacentes que foram submetidas à histerectomia total. Os experimentos foram realizados utilizando os hormônios 17β-estradiol (E2) e progesterona (P4), isoladamente e concomitantemente ao ECTI. Resultados: Na terapia hormonal observamos resultados próximos aos observados na clínica. Observamos que na presença de E2 as células do leiomioma não apresentaram sua atividade metabólica alterada, ao contrário observamos aumento da proliferação celular pela fosforilação de ERk1/2, atuando na fase S do ciclo celular. Já P4 por sua vez, atua no ciclo celular com parada e, G1/S com participação de f-Rb e p21; aumento da proliferação (atuação em Erk1/2). A terapia hormonal combinada, E2+P4 apresentou efeitos antagônicos ao observado na terapia isolada, alterando a atividade metabólica das células miometriais do Leiomioma com a expressão de f-Rb, ativação de BAX e a ativação de Akt (via de sobrevivência da célula) em mioblastos do tecido adjacente ao tumor. O tratamento com EcTI alterou significativamente a atividade metabólica das células miometriais do leiomioma porém, não das células extraídas ao tecido adjacente ao tumor. Observamos que seu efeito foi potencializado na presença de uma superfície de colágeno tipo I. E, em paralelo, a terapia hormonal com o E2 e P4 também apresentou efeito semelhante. A terapia combinada com EcTI e hormônios esteroides se mostrou a mais eficaz, diminuindo, drasticamente, a atividade metabólica das células extraídas do leiomioma, também houve participação da proteína de adesão p130Cas com a fosforilação do resíduo Y410 em células do tecido adjacente, e o resíduo Y165 em células de pacientes com Leiomioma. A parada do ciclo celular envolve o aumento de expressão de f-Rb e p21. Com a análise da via de morte celular, a proteína se apresentou superexpressa. Em relação às proteínas pró-apoptóticas (Bax) e antiapoptótica (Bcl-2 e Bcl-xL), no tecido adjacente, há uma elevada expressão de Bax e Bcl xL na presença de P4. No entanto, quando combinamos o EcTI essa expressão de Bax e Bcl-xL cai drasticamente. Conclusão: Esses achados sugerem que a terapia combinada EcTI com E2+P4 altera a atividade metabólica das células do leiomioma uterino, com a participação da proteína de adesão focal p130Cas, via de sobrevivência por Akt, parada de ciclo celular por f-Rb e p21. E via de morte há a participação da proteína pró-apoptótica Bax e em contrapartida da proteína antiapoptótica Bcl-xL. Podemos afirmar que há um sinergismo entre a a terapia e EcTI no tratamento das células do leiomioma uterino. Esses resultados se mostram promissores uma vez que, em células do tecido adjacente o efeito do EcTi e terapia hormonal não afetaram a viabilidade celular.