Entre os males que acometem os povos indígenas no Brasil, a desnutrição ainda permanece, principalmente entre as crianças < 5 anos de idade. Estudos relacionam como fatores de risco, a anemia, infecções respiratórias agudas, diarréias, parasitoses intestinais, privação de recursos socioeconômicos e restrição de terras cultiváveis para prática de subsistência, ao agravamento dos distúrbios nutricionais, identificando-se um ciclo vicioso entre estes. Está amplamente divulgado que, a desnutrição dita crônica, medida pelo índice E/I, atinge mais de um quarto das crianças indígenas < 5 anos, quando não raro mais da metade delas. Dados nacionais de 2009 mostram que na região Norte do Brasil o déficit de E/I entre crianças indígenas foi de 40,8%.O objetivo deste estudo foi caracterizar o estado nutricional de crianças indígenas da etnia Wari' < 5 anos, residentes nas aldeias das Terras Indígenas Igarapé Lage e Igarapé Ribeirão. Foi conduzido análise descritiva de prevalência de desnutrição para os indicadores E/I, P/I e P/E, e análise de regressão logística multivariada para identificar fatores associados ao desfecho baixa estatura para a idade. Foram entrevistadas e examinadas 180 crianças de sete aldeias, em duas terras indígenas distintas. A prevalência de baixa E/I, baixo P/I e baixo P/E, tendo como referencia a curva da OMS foi de 37,2%, 10,0% e 5,5% respectivamente. Foi evidenciado aumento expressivo de déficit no indicador E/I a partir dos 2 anos de idade e aproximando-se da prevalência global a partir dos 4 anos de idade, caracterizando a desnutrição crônica. A regressão logística múltipla identificou três modelos determinísticos da desnutrição, sendo que no primeiro, permaneceram as variáveis "destino do lixo"(RCa: 5,57; ICa95%:1,2-25,84), "idade da criança"(RCa: 7,06; ICa95%:3,27 - 15,24), e "município de origem da mãe"(RCa: 2,92; ICa95%:1,06 - 8,08). Um segundo modelo manteve as variáveis "destino do lixo"(RCa: 8,55; ICa95%:1,75 - 41,84), "idade da criança"(RCa: 7,64; ICa95%:3,37 - 17,31), " Morar com ambos pais biológicos" (RCa: 0,28; ICa95%:0,08 - 0,97) e "aldeia" sendo a aldeia Ribeirão que apresentou maior razão de chances (RCa: 5,29, ICa95%:1,87 - 14,96). O terceiro modelo manteve as variáveis "destino do lixo"(RCa: 9,62; ICa95%:1,99 - 46,54), "idade da criança"(RCa: 7,42; ICa95%:2,86 - 13,96), "aldeia" sendo a aldeia Ribeirão (RCa: 6,24, ICa95%:2,08 - 18,72) e "alguma internação na vida" (RCa: 4,43; ICa95%:1,71 - 11,46). Os aspectos socioeconômicos e de moradia das crianças Wari' estudadas, apesar de ainda precárias e com importantes carências, caracterizam-se por um padrão de homogeneidade e pouca diferença, mesmo que em entre aldeias distintas. Isso reflete às condições de vida a que estão expostos as famílias Wari', como precárias moradias e péssimas condições de saneamento. Sugere-se o envolvimento da população indígena na discussão de ações que visem melhorias em saneamento e gestão de resíduos sólidos, bem como sobre a segurança alimentar e nutricional, principalmente para as faixas etárias prioritárias. É imperiosa a necessidade de ações que visem a melhoria da qualidade de vida nessas aldeias, acreditando-se ser a proximidade com as cidades um fator potencializador para ações de infraestrutura habitacional e saneamento.