Este estudo teve como objetivo capturar modos de subjetivações em interface com o
aprender que se circunscreve em meio à vida no ambiente universitário. Para além de
critérios avaliativos e paradigmas psicológicos, buscou-se a temática do aprender sob o
viés das Filosofias da Diferença, perpassando pelo escopo da inventividade (KASTRUP,
2007). Nessa direção, encontrou-se, em Deleuze (2000; 2010b), a ideia de que o pensamento
produz uma diferença quando é coagido pelo encontro com os signos que o
forçam, desdobrando, daí, algo que lhe confira novo sentido. Partiu-se de um contexto
educacional que se encontra em constante mudança diante do aumento demográfico
e sociocultural, face às novas formas de ingresso no ensino superior, nos últimos anos,
e no qual se constatou um crescente não aproveitamento acadêmico de bolsistas da
Assistência Estudantil da Universidade Federal de Pelotas. Isso impulsionou, em um
primeiro momento, a realização de análise documental (LUDKE; ANDRÉ, 1986) com
557 alunos que não atingiram a média de 70% em 2013/1. Os dados quantitativos obtidos
através dos softwares EPI INFO e SPSS, utilizando-se os testes estatísticos ANOVA e
Teste-t para analisar as variáveis em exposição, associando-as ao aproveitamento acadêmico,
foram articulados ao método cartográfico (PASSOS; BARROS, 2014). Em um
segundo momento da investigação, selecionou-se, do total de sujeitos investigados, um grupo com 12 alunos, os quais participaram de cinco oficinas com temas existenciais,
a saber: liberdade, solidão, corpo, desejo e amor. Em composição cartográfica,
operou-se com escrileituras (CORAZZA, 2011), coengendrando leitura e escrita sob a
forma de catalisador de um aprender inventivo. Os resultados indicaram que o baixo
aproveitamento acadêmico relaciona-se menos com dificuldades cognitivas e mais
com contingências do contexto acadêmico, sofrimento psíquico e heterogeneidades,
em que as subjetividades (GUATTARI, 2012) emergem como territórios existenciais em
condições de provisoriedade. Distanciando-se de processos identitários e representacionais,
o estudo demonstrou uma conjunção de desterritorializações dos universitários:
alunos que ora se sentem aprisionados, reproduzindo modelos, ora traçam
linhas de fuga em sua potência de agir, ora perfilam ritornelos em movimentos que
estão transfigurando-se em devir. Diante das distintas geografias, variados modos de
composição familiar, diferentes tipos de moradia, diversos vínculos com os cursos de
graduação e com a Universidade, as singularidades estudantis ganham expressões que
são transversalizadas pelos modos de ser e estar jovem, que permeiam o aprender em
meio à vida. Assim, os dados quantitativos, as oficinas, as subjetivações indissociadas
das aprendizagens, os rizomas da Instituição, enfim, provocaram transformações na
pesquisadora, produzindo uma cartografia do desassossego que reverbera, no campo
problemático, a chance de pensar outras práticas na Educação e na Clínica.