A propaganda eleitoral gratuita compreende parte significativa das eleições brasileiras, pois facilita o contato entre candidato e eleitor por ser transmitida em rede aberta de televisão. Todavia, percebemos que, desde as eleições de 1989 em que Collor foi eleito e marco da redemocratização do país, seu conteúdo beira ataques à oposição, propostas vagas (melhorias na saúde, enrijecimento da segurança pública etc.) e a mudança do país. A cada quatro anos, portanto, candidatos clamam poder mudar a vida dos brasileiros e tornar real a utopia de um país sem miséria, igualitário, seguro, com acesso à educação e saúde de qualidade. Essa vagueza que permeia os discursos de campanha se reflete na apresentação das propostas e, principalmente, naquelas que fogem ao lugar comum, como as políticas de fronteira. Em face disso, investigamos, à luz da Teoria Retórica do Discurso – TRD (DITTRICH, 2008), de que maneira Dilma Rousseff e Aécio Neves i) se apresentam como a mudança que o país precisa e ii) dentro dessa mudança, como são apresentadas as políticas de fronteira nas eleições de 2014. Para tanto, transcrevemos os discursos das propagandas que tinham em seu conteúdo as palavras mudança (e seus derivados, mudou, mudar, mudando etc.) e fronteira e, dentro desse recorte, selecionamos quatro discursos de cada candidato no primeiro turno e um – referente às políticas de fronteiras – do segundo turno. Amparada nos pressupostos teóricos da Retórica Clássica e das Neo-Retóricas, a TRD nos permite compreender a dinâmica discursiva em três dimensões argumentativas: racionalizadora – compreende os argumentos utilizados pelo orador, de ordem técnica, sensibilizadora e legitimadora; política – lida com as relações de poder entre orador e auditório; e estética – a maneira como o discurso é construído. Para melhor compreender a natureza persuasiva dos discursos, apresentamos análise das três dimensões argumentativas em cada discurso transcrito: quais argumentos, estratégias políticas e estéticas utilizadas para justificar a mudança em cada candidato. Não podemos ignorar a natureza do discurso político eleitoral, que tem tempo de acontecimento, local e configurações específicas. Para compreendê-lo, recorremos aos estudos do Discurso (CHARAUDEAU, 2008; VAN DIJK 2000; FAIRCLOUGH, 1941 e outros) e do Marketing Político Eleitoral (TORQUATO, 2014; MANHANELLI, 1988; VAZ, 2003 e outros). Os resultados não fugiram à expectativa: Dilma, por ser candidata à reeleição, defende um ciclo de mudança que vem acontecendo desde o governo Lula; Aécio, por outro lado, julga ser o que o país precisa para mudar e argumenta uma estagnação do país no governo Dilma. Quanto às políticas de fronteira, apenas um discurso fora encontrado sobre o tema e sua abordagem fora a mesma em ambos os candidatos: enrijecer a segurança para reduzir o tráfico e a violência no país.