O Papillomavirus Bovino e a papilomatose cutânea estão amplamente difundidos no rebanho brasileiro causando perdas econômicas significativas. Os tratamentos existentes são dispendiosos, ineficazes e não há vacinas comerciais disponíveis, sugerindo a pesquisa por medicamentos viáveis e seguros. Dentre os medicamentos homeopáticos, os bioterápicos são produzidos a partir de produtos ou tecidos do paciente e utilizam o próprio agente causal da doença para estimular o organismo a promover a cura. Neste contexto, teve-se como objetivo acompanhar bovinos leiteiros naturalmente infectados por BPV, caracterizar os aspectos clínicos, epidemiológicos, laboratoriais e moleculares do rebanho, para, a partir do sangue e lesões dos animais estudados produzir e avaliar bioterápico de Papillomavírus Bovino. O trabalho foi desenvolvido no Instituto Agronômico de Pernambuco e no Laboratório de Estudos Moleculares e Terapia Experimental da Universidade Federal de Pernambuco. A propriedade foi avaliada quanto à localização, estrutura física, manejo nutricional, reprodutivo e sanitário do rebanho. Dentre os animais da propriedade, foram acompanhadas 92 fêmeas bovinas, das quais foram coletados 35 fragmentos de lesões cutâneas e 89 amostras sanguíneas. Destas amostras, foram realizados hemogramas, extração de DNA, identificação e genotipagem de BPV, e produzidos dois bioterápicos de Papillomavirus Bovino. BiotSan, produzido a partir do pool de amostras de sangue e BiotLes, produzido a partir de um pool de lesões cutâneas, ambos seguindo a Farmcopeia Homeopática Brasileira na diluição D30. Os bioterápicos prontos foram avaliados por biologia molecular quanto à presença do vírus nas diluições D1 a D30. O estudo caracterizou os aspectos epidemiológicos da propriedade, os aspectos clínicos e laboratoriais do rebanho, a infecção dos animais pelo BPV, o desenvolvimento, características e evolução clínica das lesões em 24 meses, a frequência e comparação dos tipos virais no sangue e lesões cutâneas. Os resultados mostraram que todos os animais estavam infectados pelo BPV, as avaliações hematológicas indicaram evidência de doença crônica no rebanho, semelhante entre animais sintomáticos e assintomáticos. Foi identificado comprometimento reprodutivo do rebanho, indicando ser causado pela infecção com os BPVs. A papilomatose cutânea leve com lesões do tipo atípico basal único foi a mais frequente e não houve regressão das lesões no período estudado. A presença de múltiplos tipos virais no sangue e lesões foi identificada em quase 100% das amostras, ocorreu com vários tipos virais, sem relação com localização, tipo ou gravidade das lesões e não foi determinante para o desenvolvimento de lesões cutâneas e sintomatologia clínica. Os tipos virais presentes no sangue e lesões do rebanho foram semelhantes e não diferiram entre animais sintomáticos e assintomáticos. BPV2 e BPV3 foram os tipos mais frequentes nas lesões e BPV10 e 12 no sangue. Os tipos virais BPV11 e 12 foram identificados pela primeira vez em Pernambuco em amostras de sangue e lesões. As técnicas empregadas para produção e avaliação dos bioterápicos BiotLes e BiotSan foram eficazes e a análise molecular mostrou composição por tipos virais dos gêneros Delta, Epsilon e Xipapillomavirus, ideal para indução de resposta imune específica do BPV. A diluição D30 destes bioterápicos, no entanto, apresenta fragmentos virais, não sendo recomendada para utilização no tratamento e prevenção da doença em bovinos, indicando a necessidade de novos estudos para determinar a diluição homeopática para qual inexistam partículas virais.