A busca de novas substâncias com atividade antiviral levou este estudo a investigar
a ação do peptídeo antimicrobiano P34, produzido pelo Bacillus sp. P34, frente ao
herpesvírus bovino tipo 1 (BoHV-1) e de moléculas sintetizadas da 2-picolilamina e
2-aminoetilpiperidina derivadas da classe da 4-tiazolidinona denominadas V19 (2a),
V20 (2b), V23 (2c), V28 (2d), V29 (2e), AK11 (1a), AK16 (1d), AK17 (1e), AK18 (1b)
e AK20 (1c) frente a diversos vírus que infectam animais. Inicialmente foram
determinadas as concentrações não citotóxicas dos diferentes compostos, em
diferentes linhagens celulares, através dos métodos MTT e vermelho neutro. A
seguir a atividade antiviral foi avaliada mediante um ensaio de inibição do efeito
citopático. Em todos os testes, o título viral em cultivo celular foi comparado ao título
viral na presença de cada composto para a determinação do percentual de inibição
(PI). O P34 demonstrou um PI de 99,94% e alto índice de seletividade (SI de 22,9).
Os testes para identificar o modo de ação indicaram que o peptídeo P34 não atua
sobre as células MDBK, ou receptores celulares. Em concentrações citotóxicas o
P34 obteve efeito virucida e 100% de inibição viral nos ensaios de redução viral e de
penetração. Foi evidenciada total inibição na produção das partículas de BoHV-1
quando as células foram tratadas com o P34 posterior a 8 h de infecção. Houve
redução significativa (p< 0.01) do título do BoHV-1 na presença do P34 após 8 h de
infecção (PI de 90%), chegando a 99,9% de PI após 18 h de tratamento pósinfecção.
O P34 inibiu o BoHV-1 tanto no meio extracelular, inibindo a infecção
celular, quanto no meio intracelular, após a infecção, impedindo o egresso. Com
relação às moléculas derivadas da 4-tiazolidinona a menos tóxica foi a AK 16 (157
µg/mL) nas quatro linhagens de células (RK13, MDCK, CRFK e MDBK) e as mais
tóxicas foram as AK11, AK18 e AK20 (19 µg/mL). O PI da molécula AK16 foi de
96,9%, 90,1% e 90,1% contra o EAV, FCV e CPV-2, respectivamente. O composto
AK17 mostrou PI de 90,1% contra o EAV, a V20 de 78% contra BVDV, a V28 de
94,4% contra EIV e 78% contra BVDV e a V29 de 94,4% contra CPV-2. As
moléculas V20 e V28 foram escolhidas para dar continuidade ao estudo frente ao
BVDV. Foram determinados para V20 um SI de 16,8 e de 14,73 para V28. Nos
ensaios de inibição da produção de partículas virais, adsorção, competição com
receptores celulares, penetração viral e efeito virucida não foram observadas
diferenças significativas entre os títulos do BVDV com e sem tratamentos com as
moléculas. A associação das moléculas V20 e V28 aumentou de 78 para 82% o PI,
não sendo verificada alteração no PI quando as moléculas foram associadas com os
antivirais interferon-α 2b ou ribavirina. Através da determinação da curva de
crescimento do BVDV foi evidenciada atuação no período entre 1 a 5 h pós-infecção
com o BVDV, sugerindo ação posterior à entrada viral, mas antes do egresso,
provavelmente no período de síntese do RNA e enzimas virais. Os resultados
demonstram que o peptídeo P34 e os compostos V20 e V28 derivados da 4tiazolidinona
podem ser considerados promissores antivirais contra BoHV-1 e BVDV.