Desafios e a importância do cuidado para a reinserção profissional de pessoas
com esquizofrenia
Introdução: O trabalho é considerado uma das principais formas de organização
social, no entanto, poucos os portadores de esquizofrenia têm oportunidade de
trabalho. Para desenvolver estratégias de participação social pelo trabalho, deve-se
pensar o cuidado em saúde de forma ampliada, para assegurar a qualidade de vida
e a defesa de direitos. Os objetivos deste estudo são avaliar a relação entre a
sintomatologia da doença e a aquisição de trabalho e construir uma proposta de
cuidado a partir dos relatos das experiências dos portadores de esquizofrenia.
Métodos: Foram realizados dois estudos: no primeiro, de abordagem quantitativa e
seguimento longitudinal de dezoito meses foram incluídos 53 portadores de
esquizofrenia em tratamento ambulatorial. Todos participaram de um grupo de
orientação para o trabalho. Ao final do grupo e dezoito meses depois, foram
coletados dados sócio-demográficos, clínicos e do histórico ocupacional e aplicadas
escalas para avaliar a sintomatologia (PANSS), depressão (Calgary), gravidade da
doença (CGI), funcionalidade (GAF), performance pessoal e social (PSP) e as
funções cognitivas (bateria MATRICS). O segundo estudo, de corte transversal e
abordagem qualitativa incluiu uma subamostra de 11 pessoas entre os participantes
do Estudo I, que responderam uma questão sobre os aspectos positivos e negativos
do trabalho. A partir das respostas foram definidas 4 categorias representativas.
Para discutir as categorias foi utilizada a Técnica da Análise Temática. Resultados:
Participaram do primeiro estudo 53 pessoas. Os que tiveram alguma experiência de
trabalho (n=19) apresentaram menores escores nas medidas das escalas PANSS,
Calgary, GAF, CGI e PSP (p<0,05) comparados àqueles que não trabalharam. Entre
os que trabalharam, houve uma pequena piora nos sintomas positivos (PANSS
positiva) que não representa relevância do ponto de vista clínico, mas dispara a
discussão que permeia o Estudo II. No segundo estudo é feita uma reflexões sobre o
cuidado para discutir as quatro categorias temáticas: sobrecarga e falta de
informação/orientação no trabalho, remuneração, responsabilidade, esperança e
superação e o cuidado com a saúde. Conclusões: Pacientes com menor gravidade
de doença tiveram melhor desempenho na aquisição de trabalho. A mudança na
sintomatologia positiva não representa relevância clínica, portanto não parece afetar
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a participação no trabalho, entretanto, traz a necessidade de ampliarmos a
discussão sobre o cuidado à saúde dos portadores de esquizofrenia que querem
trabalhar. Pensar no cuidado de forma ampliada requer uma relação de afeto e
responsabilidade, valorizando a singularidade e o empoderamento para a superação
da doença e desenvolvimento de projetos de vida significativos.