Dentre as 18 espécies que compõe o gênero Helicoverpa (Lepidoptera: Noctuidae), destaca-se a espécie H. armigera, considerada a mais impactante peste agrícola do Velho Mundo. Essa espécie era considerada inexistente no continente americano até que, no início de 2013, foi identificada atacando culturas de soja e algodão no Brasil, causando importantes perdas econômicas para a agricultura. Posteriormente, o registro de sua ocorrência foi ampliado no território nacional e também em países vizinhos. Entre as características que a tornam uma importante praga agrícola, destaca-se o fato de ser uma espécie altamente polífaga, com mais de 180 diferentes plantas hospedeiras. As fêmeas adultas apresentam alta fecundidade e as lagartas infestam preferencialmente estruturas reprodutivas afetando diretamente a produção agrícola. Indivíduos dessa espécie também podem migrar por grandes distâncias, além de apresentar altos níveis de resistência à inseticidas. Em regiões tropicais, as populações podem apresentar até 11 gerações por ano. O tamanho populacional e o número de gerações são determinados, principalmente, pelo clima quente e pela disponibilidade de hospedeiros. Estes fatores se encontram em suas condições ótimas em grande parte das regiões cultivadas brasileiras. Devido à grande semelhança morfológica, outras espécies da família Noctuidae como Heliothis virescens, Helicoverpa assulta, H. punctigera e H. zea podem ser confundidas com H. armigera, o que compromete as políticas de manejo. Nesse contexto, se torna fundamental a correta identificação de indivíduos da espécie, além da compreensão da sua diversidade genética e dinâmica populacional e demográfica nas regiões recentemente invadidas da América do Sul. 396 espécimes de diferentes localidades da América do Sul tiveram a região barcode do gene mitocondrial COI sequenciada, dos quais 270 foram 99-100% correspondentes às sequências de referência de H. armigera depositadas em bancos públicos. As sequências foram alinhadas com outras espécies da família Noctuidae e a árvore filogenética foi inferida pelos seguintes métodos: Neighbor-joining, usando os modelos K2P e p-distance, Inferência Bayesiana e Máxima Verossimilhança, o que reforçou a identidade dos indivíduos. Haplótipos do gene COI e Cyt b foram comparados com os haplótipos encontrados em outros países ao redor do mundo, porém não foi encontrada nenhuma correlação que indicasse uma fonte da introdução. As redes de haplótipos do gene COI, COII, Cyt b e desses genes concatenados mostraram alta diversidade genética, o que não seria esperado para uma população que teria passado recentemente por um gargalo em decorrência de um efeito fundador. Parâmetros populacionais mostraram ausência de estruturação além de haplótipos amplamente distribuídos. Parâmetros demográficos indicaram população em expansão. A modelagem de nicho mostrou que a região Nordeste e Centro-Oeste são as que possuem as condições climáticas e ambientais mais favoráveis ao estabelecimento da H. armigera. Essa análise suporta os resultados que indicam que as populações dessas regiões sofrem uma expansão mais intensa e recebem um maior número de migrantes de outras regiões. Os resultados desse trabalho contribuem para uma melhor compreensão sobre o comportamento dessa praga no continente americano recém-invadido, podendo subsidiar estratégias mais eficientes de controle dessa importante praga agrícola.