A displasia coxofemoral é a afecção ortopédica mais frequente na espécie canina e, pela
estatística apresentada pela Orthopaedic Foundation for Animals o buldogue inglês é a raça
com maior acometimento proporcionalmente. Entretanto carece em literatura dados sobre o
desenvolvimento e morbidade desta doença na raça. O objetivo desse estudo foi avaliar a
morfologia e morfometria da articulação coxofemoral de cães da raça buldogue inglês por
meio de exame radiográfico e por tomografia computadorizada comparando-os com achados
da avaliação ortopédica e cinética. A hipótese proposta é de que buldogues podem apresentar
alterações radiográficas compatíveis com a displasia coxofemoral sem apresentar
manifestações clínicas da doença. De cada articulação avaliada foram adquiridos dados por
meio de exame ortopédico, avaliação cinética, radiográfica e por tomografia
computadorizada. Foram feitas avaliação subjetiva das alterações morfológicas radiográficas
e aferição do ângulo de Norberg, ângulo de inclinação do colo femoral e o escore de
subluxação dorsolateral. Os dados obtidos foram correlacionados por meio dos coeficiêntes de
Spearman. Trinta cães foram avaliados, 20 machos e 10 fêmeas. As médias de idade e peso
dos participantes do estudo foram de 3,5 anos e 26,1 kg respectivamente. 76,6% dos animais
apresentaram escore de condição corporal acima do considerado ideal e 63,3% viviam em
ambiente de piso liso. Entretanto esses fatores de risco avaliados não apresentaram correlação
com nenhuma alteração pesquisada. 63,3% dos cães apresentaram alterações nas articulações
dos joelhos e 40% nas articulações coxofemorais pela avaliação ortopédica. Pela palpação da
articulação coxofemoral foram observadas alterações em 50% dos animais, sendo a crepitação
leve representando 86,6% das alterações, e crepitação de grau moderado e discreta
manifestação de dor em 13,3%. A frequência de alterações morfológicas radiográficas
observada foi de 98,3% para subluxação coxofemoral, 81,6% para o achatamento da cabeça
do fêmur, 70% para presença de osteófitos ou entesófitos periarticulares e 61,1% para o
arrasamento acetabular. A conformação radiográfica da articulação coxofemoral mais
frequente foi de cabeça femoral com formato discretamente elíptico e discretamente
subluxada, bordas acetabulares craniolateral arredondada e dorsal encurtada com discreta abaixo dos valores considerado de normalidade, sendo de 94,94° para o ângulo de Norberg,
27,13% para o escore de subluxação dorsolateral e 128,53° para o ângulo de inclinação do
colo femoral. A presença de osteófitos periarticulares obteve correlação estatística com
presença de crepitação à palpação da coxofemoral, assim como o arrasamento acetabular com
a presença de dor ao exame ortopédico. Entretanto as manifestações clínicas não coincidiram
proporcionalmente às alterações observadas pelos métodos de diagnóstico por imagem. É
questionado se a conformação muscular da raça pode contribuir para contrabalancear a
instabilidade articular apresentada pelos métodos avaliados.