O trabalho possui como tema a brincadeira do reisado Boi Estrela, liderada por Raimundo Branquinho no povoado Boquinha, zona rural sudeste do município de Teresina-Piauí. Por meio do reisado, um grupo de pessoas se reúne para realização de caminhadas, festas, rezas e apresentações em nome dos Santos Reis. A prática está presente em vários municípios do estado e pode ser estudada de diferentes maneiras. Valendo-se do uso da teoria antropológica, este trabalho traz uma etnografia do grupo de reisado Boi Estrela, na qual são investigadas as elaborações e práticas que se dão em torno das categorias de tradição e invenção, termos que transitam do senso comum ao mundo acadêmico-científico. Pela observação participante associada ao método da história oral, que preconiza a análise contextual das narrativas, constata-se um permanente diálogo entre os significados atribuídos às tradições e às invenções no reisado, manifesto especialmente nas falas e ações de seu principal realizador, Raimundo Branquinho. Seus pronunciamentos expressam a retórica dos discursos patrimonialista e do movimento folclórico, sobre os quais repousam os ideais da Fundação Municipal de Cultura, principal patrocinadora das atividades do grupo Boi Estrela. As trocas no reisado apresentam uma dinâmica que é própria aos rituais. Materiais, simbólicas e ideológicas, se dão mediante acordos entre grupos e pessoas diversos, efetivados tanto na comunidade Boquinha quanto fora dela. O líder do reisado, em seu papel de articulador, busca manter o controle das impressões que causa aos outros, reinventando constantemente aquilo que considera ser a sua tradição. A dissertação está estruturada em três capítulos. O primeiro, Contextualização da Prática, apresenta o espaço onde está inserido o reisado, o povoado Boquinha, a história de Raimundo, as relações com a comunidade e com os gentes de política cultural. No segundo capítulo, o Grupo de reisado Boi Estrela é descrito quanto à composição social e às representações que seus participantes fazem da prática. O terceiro, e último capítulo, traz a análise ritual propriamente dita: a etnografia dos Festejos de Santo Reis, incluindo a jornada na comunidade, a festa no galpão e a apresentação em Teresina, considerando desde a volição e preparação à execução dos eventos.