Introdução e objetivo: Na doença renal crônica (DRC) a presença de sobrepeso ou obesidade está associada a inúmeras complicações metabólicas, inclusive a piora da função renal. Além disso, a associação entre DRC e excesso de gordura corporal pode levar ao agravamento da capacidade cardiorrespiratória, funcional e da qualidade de vida dos pacientes. Estudos mostram que o treinamento aeróbico melhora vários aspectos da capacidade física desses pacientes. Embora a incorporação do exercício físico em um tratamento padrão de DRC seja um desafio, este é recomendado pelas diretrizes atuais para todas as fases da doença. Porém, a escassez de estudos mostrando benefícios reais de programas práticos e acessíveis, dificultam ainda mais a implementação de programas de treinamento para esses pacientes. Portanto, o presente estudo teve como objetivo comparar o desempenho do exercício aeróbico realizado à distância com o realizado presencialmente sobre a capacidade cardiorrespiratória e funcional de pacientes com DRC na fase não dialítica e com excesso de peso corporal.
Métodos: Foram estudados 40 pacientes (27 homens) sedentários que se encontravam nos estágios 3 ou 4 da DRC, com idade de 55,5±8,3 anos (média±DP), IMC de 31,2±4,4 kg/m2 e taxa de filtração glomerular estimada de 26,9±11,7 mL/min/1,73m2. Os pacientes foram randomicamente alocados para o grupo controle ou para o grupo exercício. Aqueles que foram designados ao grupo exercício puderam escolher entre realizar o exercício à distância ou presencial. O grupo controle permaneceu sem praticar exercício. O grupo presencial realizou caminhada em esteira rolante e foi monitorado durante todas as sessões, o grupo distância realizou caminhada em domicílio, com acompanhamento realizado por meio de ligações telefônicas semanais e visitas mensais. Os grupos exercitados foram submetidos ao mesmo protocolo de exercício aeróbico contínuo que consistiu de três sessões semanais em dias alternados, na intensidade do LV1 com duração de 30 minutos. A duração foi aumentada em 10 minutos a cada 4 semanas até que se alcançasse 50 minutos. Os pacientes foram submetidos à avaliação da capacidade cardiorrespiratória, a testes de capacidade funcional, ao questionário de qualidade de vida (SF-36), ao questionário de qualidade de sono (PSQI) e à exames laboratoriais de rotina, antes, após 12 semanas e após 24 semanas de seguimento.
Resultados: Um aumento significante (p<0,05) no VO2 pico, na velocidade no LV1, no VO2 no LV2 e na ventilação máxima foi observado ao final de 12 semanas de treinamento no grupo distância, alcançando valores semelhantes aos obtidos no grupo presencial. Quanto aos testes funcionais observou-se melhora na caminhada de 6 minutos, ir e voltar, marcha estacionária, sentar e levantar e resistência muscular de membro superior ao final de 12 semanas de treinamento, no grupo distância, com valores que não diferiram dos obtidos no grupo presencial. Em ambos os grupos exercitados os valores alcançados nesses parâmetros se mantiveram ao final das 24 semanas. Nenhuma modificação nesses parâmetros foi encontrada no grupo controle. Os benefícios observados nos parâmetros cardiorrespiratórios e na capacidade funcional decorrentes do exercício refletiram em melhora da qualidade de vida e sono. Além disso, somente nos grupos exercitados foi observado diminuição na pressão arterial, sem que houvesse modificação da medicação anti-hipertensiva, do consumo de sódio e do peso corporal. Nenhum efeito adverso foi observado.
Conclusão: O treinamento aeróbico à distância promoveu benefícios semelhantes ao presencial na condição cardiorrespiratória, capacidade funcional, qualidade de vida e sono, além de reduzir a pressão arterial de pacientes obesos com doença renal crônica. Os resultados do presente estudo indicam que o exercício à distância é eficaz e pode ser empregado com segurança.