As espécies do gênero Macrobrachium apresentam tipos distintos de desenvolvimento larval. Espécies de ciclo longo são tipicamente diádromas e necessitam da água salobra para completar a metamorfose, enquanto que as de ciclo larval abreviado completam o ciclo em água doce e portam grande reserva endógena. Entretanto, M. amazonicum pode completar o desenvolvimento larval em água doce para populações continentais e em água salobra para populações costeiras. Nos dois casos, apresenta ciclo longo, sendo considerado uma exceção. Assim a presente tese teve como objetivo, investigar aspectos morfofisiologicos do desenvolvimento ontogenético de camarões do gênero Macrobrachium da região Amazônica. Foi realizada a descrição da morfologia do sistema digestório da espécie M. acanthurus que apresenta ciclo longo e M. jelskii, de ciclo abreviado. A partir desses dados foi inferido a possível existência de lecitotrofia e funcionalidade desse sistema ao longo do desenvolvimento ontogenético. Além disso, foi levantada a hipótese de que M. amazonicum de uma mesma população genética (costeira da Amazônia) apresenta plasticidade biológica para salinidade em resposta ao ambiente que ocupa. A morfologia do sistema digestório de M. acanthurus revelou ausência de funcionalidade digestiva em zoea I. Nesse estágio os apêndices bucais e estômagos são desprovidos de cerdas ou estruturas rígidas, conferindo comportamento lecitotrófico obrigatório. No entanto, em zoea II há o aumento no número de cerdas nos apêndices bucais e uma clara diferenciação do estômago, com o registro de filtro pilórico em forma de colmeia. Nos estágios subsequentes essas estruturas tornam-se especializadas, evidenciando a capacidade de captura e digestão de alimentação exógena. M. jelskii possui apêndices bucais e estômagos rudimentares e não funcionais em zoea I e II, conferindo comportamento lecitotrófico obrigatório nessa fase. Em zoea III essas estruturas tornam-se mais complexas e funcionais para a alimentação. Esses resultados corroboraram os ensaios comportamentais de ponto de não retorno e ponto de saturação de reserva, que testou a inanição na fase larval e evidenciaram alto potencial endotrófico, com reservas vitelogênicas suficientes para conclusão da metamorfose na ausência de alimentação. Ou seja, em zoea III a lecitotrofia pode ser considerada facultativa. Para as larvas de M. amazonicum foi investigado o comportamento osmorregulatório em animais oriundos de ambiente de várzea e de estuário. Foram avaliadas a sobrevivência e longevidade de larvas em inanição nas salinidades 0, 2, 5, 10, 20 e 30. Em paralelo foram cultivadas larvas, com fornecimento de alimento, nas salinidades 5, 10 e 20. As larvas mostraram tolerância a água doce em zoea I, independente da origem dos animais, sugerindo uma estratégia para migrarem ao ambiente com influência salina. No entanto, larvas de várzea são capazes de se desenvolver em todas as salinidades testadas, enquanto que as estuarinas não chegam a pós-larvas em água doce. Esses resultados indicam que larvas de M. amazonicum possuem plasticidade biológica, em que as larvas de várzea podem ser facultativamente hololimnéticas e as estuarinas são tipicamente diádromas. Além disso, as larvas originadas de ambiente estuarino apresentaram maior sobrevivência em salinidade 20, sugerindo uma adaptação para ambientes com maior oscilação de salinidade. Além disso, foi visto que em salinidade 5 as larvas de várzea apresentam produtividade maior que 60 PL/L. Já as larvas de estuário revelam maior resistência à maiores salinidades. Os resultados obtidos neste documento de tese fornecem subsídios para adequar o manejo alimentar na fase larval de M. jelskii e M. acanthurus, assim como promover redução de custos quanto ao uso de água salgada natural ou artificial no cultivo de M. amazonicum.