Esta pesquisa tem por objetivo descrever e analisar os usos que três professoras de uma escola
pública mineira, que atuavam nos anos iniciais do Ensino Fundamental, fizeram de uma
coleção didática de letramento e alfabetização ao longo de um ano letivo. Considerando as
últimas mudanças ocorridas no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) em função das
novas demandas apresentadas na reorganização do Ensino Fundamental de Nove Anos e na
constituição de um ciclo para os três primeiros anos desse segmento, este estudo pretende
revelar o papel do livro didático na prática pedagógica dessas professoras. Através de uma
abordagem qualitativa, agrupamos variadas estratégias, como observação das aulas, anotações
em diário de campo, entrevistas com as professoras. A pesquisa, realizada, principalmente, à
luz dos estudos de De Certeau (2003), através de seus conceitos de estratégia e tática, e dos
estudos de Chartier (1998; 2000; 2007), com seu conceito de prática, mostrou que os livros
didáticos estão presentes nas turmas de alfabetização, mas há distância entre o que se espera
do trabalho com uma coleção que teve boa avaliação, aprovada pelo PNLD, e seu uso efetivo
na sala de aula. Distância que é perceptível entre o grande volume de exemplares distribuídos
para as escolas públicas brasileiras e a sua subutilização, ou até mesmo a negação de
utilização desse material, em sala de aula. E existem também, devido à astúcia e à
inventividade das professoras, propostas de transformação das atividades apresentadas pelo
livro didático adotado, através da ação desses profissionais em sua prática docente e as
apropriações que fazem do material. Paralelamente ao trabalho feito com o livro didático
adotado, outros impressos, como fragmentos de outras obras didáticas, materiais em forma de
apostila - adquiridos pelas professoras com recursos próprios – e também atividades extraídas
de blogs, constituíram forte presença nas três turmas. O estudo mostrou ainda que as
professoras não eram passivas diante das propostas apresentadas pelo livro didático. Cada
qual, a seu modo, subverteu seu uso, adequando-o às suas necessidades em sala de aula e de
acordo com o perfil dos seus alunos. Essa adequação – bem ou mal – visava atender às
necessidades das turmas naquele momento específico.