A presente pesquisa está sob a referência do Programa Etnomatemática, o qual procura entender como as culturas mais diversas expõem suas razões e explicações provenientes da realidade que os cerca, de modo a lidar com os desafios do cotidiano. O objetivo geral do estudo foi compreender de que forma ideias etnomatemáticas são concebidas, processadas e materializadas durante a pintura de cuias tapajônicas por uma artesã do município de Santarém, PA. As cuias, objetos que podem ser utilizados como utensílio de cozinha, recipiente para comida, ou ainda, como peça ornamental de roupas ou da decoração de casas, são produzidas por meio da extração do fruto da cuieira (Crescentia cujete), uma herança dos povos indígenas Tupaiu, Tapajós e Munduruku, desde o século XVIII. A pesquisa de campo foi pautada em pressupostos de estudos etnográficos e foi desenvolvida no local de trabalho da artesã. Foram realizadas observações, entrevistas, filmagens e fotografias do processo de pintura das cuias. Como principais resultados, podemos citar que os traçados presentes nas pinturas são círculos, circunferências, triângulos, retângulos, quadrados, segmentos de reta, arcos de circunferência e pontos; em relação à concepção das paisagens pintadas, verificamos o componente afetivo-religioso presente; constatamos que ela utiliza a música como forma de manter uma tranquilidade no ambiente; verificamos que a escolha das cores utilizadas nas paisagens se dá pelo horário que está sendo representado; nas imagens, vimos que ela utiliza dimensões proporcionais ao tamanho da cuia e aos elementos que estão presentes nas paisagens; verificamos que a artesã faz comparações entre representações de casas, barcos, vegetação, areia, rio, e tenta estabelecer uma proporcionalidade próxima à natureza real; além do estabelecimento de padrões durante o processo.