O presente trabalho relata os aspectos epidemiológicos, clínico-patológicos e
bacteriológicos do primeiro registro de periodontite em ovinos no Brasil, ocorrido em uma
propriedade rural no município de Benevides, Pará. O surto ocorreu aproximadamente um
mês após o pastejo na área de Panicum maximum cv. Massai, a qual sofreu práticas agrícolas,
quando foi observado aumento de volume na mandíbula em alguns animais, em sua maioria
com idade acima de 36 meses. Foi realizado o exame clínico extra-oral dos 545 ovinos e
verificou-se aumento de volume da mandíbula em 3,7%. Os animais acometidos
apresentavam baixo escore corporal, pelos arrepiados e sem brilho, alguns com afrouxamento
e perda dos dentes pré-molares e molares inferiores e superiores, formação de abscesso e
fístula no local acometido, demonstração de dor à palpação e dificuldade de mastigação. Das
39 cabeças de animais jovens analisadas no exame macroscópico post-mortem, 51,3%
apresentavam lesões periodontais e das 38 analisadas após a maceração, 73,7% também
apresentavam lesões. Das cabeças com lesões no exame post-mortem, em 45% as lesões
encontravam-se na maxila, 15% na mandíbula e 40% nas duas estruturas (maxila e
mandíbula). Nas cabeças com lesões após a maceração, 50% encontravam-se na maxila e 50%
na maxila e mandíbula. Das 17 cabeças de animais adultos analisadas no exame post-mortem
e após a maceração, todas apresentavam lesões periodontais. No exame post-mortem, 11,8%
apresentavam lesões na mandíbula e 88,2% nas duas estruturas; após a maceração, 5,9% na
maxila, 11,8% na mandíbula e 82,3% nas duas estruturas. Os achados histopatológicos
revelaram processo inflamatório piogranulomatoso. Para caracterização da microbiota
bacteriana subgengival de 14 ovinos com periodontite foi realizada a Reação em Cadeia da
Polimerase (PCR) para pesquisa de micro-organismos pertencentes ao complexo vermelho de
Socransky (Porphyromonas gingivalis, Tannerella forsythia e Treponema denticola) e outros
possíveis periodontopatógenos Gram-negativos e Gram-positivos. Em 50% das amostras foi
possível identificar Porphyromonas gingivalis, em 92,8% Tannerella forsythia e em 78,5%
Treponema denticola. Os três periodontopatógenos pertencentes ao complexo vermelho
ocorreram concomitantemente em 42,8% das amostras. Foram identificados ainda em pelo
menos um animal examinado Campylobacter rectus, Eikenella corrodens, Enterococcus
faecium, Fusobacterium nucleatum, Prevotella intermedia, Prevotella loeschii e Prevotella
nigrescens. Não foram detectados nas 14 amostras Aggregatibacter actinomycetemcomitans,
Dialister pneumosintes, Enterococcus faecalis e Porphyromonas gulae. Os resultados
permitem concluir que a periodontite ovina ocorrida no município de Benevides – PA possui etiologia infecciosa e acometeu um significativo número de animais, diversos com
abaulamento da mandíbula; teve alta incidência nos jovens e envolveu a totalidade dos
animais adultos examinados post-mortem e após a maceração.