Esta pesquisa dedica-se a analisar as manifestações da cultura militar na educação
brasileira durante parte da Primeira República, com destaque para a cidade de
Pelotas, no Rio Grande do Sul. Trata-se de uma pesquisa documental, realizada por
meio de alguns exemplares das revistas O Tiro e O Tiro de Guerra, editadas pelo
Ministério da Guerra de 1909 a 1930, documentos digitalizados do Center for
Research Libraries, Almanach de Pelotas, Relatórios do Município de Pelotas, Álbum
de Pelotas, Lembranças do Gymnasio Gonzaga, documentos escolares do Museu
da Escola Municipal Pelotense e bibliografias. A primeira parte descreve a história da
educação militar, iniciada pelo exército português no território brasileiro em 1694,
constituindo-se em matriz e inspiração herdadas pelo Exército do Brasil soberano,
que, a partir dos arsenais de guerra, dispensou preocupação educacional não
somente aos seus efetivos, como às crianças e adultos civis de suas vizinhanças.
Participou, ainda, da alfabetização de parcela de seus militares de baixa patente em
outros tipos de aquartelamento, por meio das Escolas Regimentais. Descreve,
ainda, a importante participação de civis na criação de alguns Batalhões Patrióticos,
sobretudo o da Escola Polytechinica que, nos primeiros anos da República, garantiu
sua consolidação. Expõe os esforços do exército para contar com uma doutrina de
guerra atualizada, experimentando, até meados do século XX, as doutrinas alemã,
francesa e americana como ideais. Por fim, descreve o percurso histórico do
surgimento da educação física no Brasil, tendo o Exército brasileiro desempenhado
papel preponderante na sua adoção e desenvolvimento. A segunda parte deste
trabalho aborda o início das atividades desportivas, tanto aquelas ligadas ao tiro ao
alvo nas associações de cultura alemã, como as iniciadas pelos militares e civis em
algumas instituições militares. Expõe, ainda, a criação da Sociedade de Propaganda
do Tiro Brazileiro, na cidade de Rio Grande, no Rio Grande do Sul, seus resultados e
a inspiração à criação de outras associações com a finalidade de instruir cidadãos a
partir dos 16 anos de idade no aprendizado do tiro para a defesa da pátria, sob a
coordenação da Confederação do Tiro Brasileiro, concomitante à campanha em prol
do serviço militar obrigatório. A terceira e última parte relata as inúmeras dificuldades
enfrentadas pelo Exército brasileiro na Guerra da Tríplice Aliança, sendo que duas
delas – a baixa qualificação profissional de sua tropa afetada pela pouca
escolarização e o despreparo para atirar – perdurariam, ainda, como preocupações
por muito tempo. Consciente disso, desde então o Ministério da Guerra manteve-se
à procura de uma solução, descobrindo, no início do século XX, que poderia sanar
essas deficiências com a introdução de sua cultura militar nas Linhas, Tiros e nas
instituições educacionais civis, através das Escolas de Instrução Militar. Como
resultado, Pelotas foi considerada um locus privilegiado para a disseminação
daquela cultura, inclusive da pedagogia escoteira em algumas instituições,
contribuindo para a formação de uma juventude patriótica e cívica.