No presente trabalho objetivou-se avaliar a variabilidade da energia e nutrientes dos
principais alimentos que atualmente compõem as formulações de rações para aves e
suínos, elaborar uma proposta para estimativa da margem de segurança e calcular a
variabilidade nutricional nas rações otimizadas. Para avaliação da composição e
variabilidade nutricionais do milho, sorgo, farelo de soja e farinha de carne e ossos
foram utilizados o método da holo-análise, incluindo vários estudos de meta-análise,
avaliações estatísticas descritivas e testes de normalidade dos resultados analíticos.
Estas avaliações incluíram uma abrangente análise dos dados disponíveis de
composição nutricional, oriundos de análises bromatológicas (banco de dados
“ANALISES”) e tabelas de composição de alimentos (bando de dados “TABELAS”),
mais utilizados na formulação de rações para aves e suínos; equações de predição do
valor energético e de aminoácidos; e fatoração dos aminoácidos pela proteína bruta. A
margem de segurança foi utilizada para ajustar os valores da energia e nutrientes dos
ingredientes estudados, devido sua variabilidade. Foram utilizados dois métodos: (1)
Margem de segurança pelo múltiplo do desvio padrão analítico (MDPA) e (2) Margem
de segurança pelo múltiplo do desvio padrão analítico com a participação do percentual
do ingrediente na ração (MDPAPI). O desvio padrão (DP) do nutriente para cada
alimento foi obtido do banco de dados “ANÁLISES”, e o percentual do ingrediente na
ração obtido de formulações otimizadas para frangos de corte, poedeiras e suínos, em
diferentes fases de criação e produção. A variação do conteúdo de energia e nutrientes
dos diferentes alimentos foi utilizado para estimar a variação nutricional na ração
formulada. Análises estatísticas descritivas considerando valores de mínimo, máximo,
amplitude, média, desvio padrão, coeficiente de variação. Outras análises adicionais
como o erro padrão da média, intervalo de confiança, curtose e assimetria foram
avaliadas no relatório sintético obtido do banco de dados “ANÁLISES. A avaliação
gráfica dos valores analíticos nutricionais (energia e nutrientes) dos alimentos estudados
neste trabalho foram oriundas da elaboração de histogramas. Testes estatísticos de
normalidade dos dados do banco de resultados “ANÁLISES” foram realizados pelo
programa SAS versão 2.0. Foi considerado o p-value para os testes Shapiro-Wilk;
Kolmogorov-Smirnov, Cramer-von Mises e Anderson-Darling. O programa
computacional R CRAN versão 3.2.0. foi utilizado para calcular o coeficiente de
determinação (R2). Outro tipo de gráfico utilizado para avaliar a normalidade das
variáveis foi o Q-Q Plot pelo programa ACTION. Para o milho observou-se no banco
de dados “TABELAS” uma amplitude proporcionada pelos valores de máximo e
mínimo da MS (2,80%), PB (1,5%), EE (0,5%), FB (0,47%), MM (0,40%) e cálcio
(0,344%). O aminoácido mais abundante no milho é o ácido glutâmico (1,57%),
seguido da leucina (1,0%), e o de menor nível é o triptofano (0,05%). E para os ácidos
graxos essenciais o milho é rico em ácido linoléico (1,94%), aproximadamente 52% do
seu extrato etéreo, entretanto é pobre em ácido linolênico (0,05%). Os resultados
obtidos no banco de dados “ANALISES” para o milho, sorgo, farelo de soja e farinha
de carne e ossos, associado às suas análises estatísticas descritivas, permitiu observar
uma amplitude de valores nutricionais importante para a proposta de se considerar uma
margem de segurança, principalmente para os nutrientes essenciais dietéticos. A
margem de segurança (MDPAPI) do nutriente proteína do milho foi de 0,07286 e
0,08680, respectivamente para a ração pré inicial e final de frango de corte. Os
resultados observados de energia e nutrientes para o milho, sorgo, farelo de soja e
farinha de carne e ossos não seguem distribuição normal, para Shapiro-Wilk
(p<0,0001), Kolmogorov Sminov (p <0,01) e para Cramer von Mises (p<0,005) e
Anderson Darling (p <0,005), exceção para os valores energéticos EMFCCQ (p 0,3957)
e EMPCQ (p 0,4248) para o sorgo e a fibra bruta (p 0,195) para a farinha de carne e
ossos segundo Shapiro-Wilk. Para o sorgo observou-se no banco de dados “TABELAS”
uma amplitude proporcionada pelos valores de máximo e mínimo da MS (4,72%), PB
(4,6%), EE (0,65%), FB (0,78%), MM (0,46%), cálcio (0,02%), EMAn para aves
(354kcal), ED suínos (380 kcal), EM suínos (379kcal) e EL suínos (374kcal). A
variação da proteína bruta (7,1 a 11,7%) e de seu valor em aminoácidos digestíveis
também é muito variável entre as recomendações, principalmente para lisina e
metionina. O aminoácido mais abundante no sorgo é o ácido glutâmico (1,93%),
seguido da leucina (1,26%), e o de menor nível é o triptofano (0,09%). E para os ácidos
graxos essenciais o sorgo é rico em ácido linoléico (1,05%), aproximadamente 37,2%
do seu extrato etéreo, entretanto é pobre em ácido linolênico (0,07%). A margem de
segurança (MDPAPI) do nutriente proteína do sorgo foi de 0,08649 e 0,22448
respectivamente para a ração pré inicial e final de frango de corte. Para o farelo de soja
observou-se no banco de dados “TABELAS” uma amplitude proporcionada pelos
valores de máximo e mínimo da MS (3,90%), PB (6,54%), EE (2,5%), FB (4,0%), MM
(0,8%), EMAn para aves (261 kcal), ED para suínos (490 kcal), EM para suínos (350
kcal), EL para suínos (213 kcal), MET-T (0,16%), METCIS-T (0,21%), LIS-T (0,54%),
TRE-T (0,53%), TRI-T (0,18%), cálcio (0,14%), fósforo total aves (0,16%), fósforo
total suínos (0,13%) e sódio (0,03%). A variação da proteína bruta (43,26 a 49,8%) e de
seu valor em aminoácidos totais e digestíveis variável entre as recomendações, com
média de amplitude de 0,49%. O aminoácido mais abundante no farelo de soja é o ácido
glutâmico (8,40%), seguido da leucina (3,54%), e o de menor nível é o triptofano
(0,63%), característica de proteínas de origem vegetal. E para os ácidos graxos
essenciais o farelo de soja é rico em ácido linoléico (0,69%), aproximadamente 43,7%
do seu extrato etéreo, entretanto é pobre em ácido linolênico (0,10%), aproximadamente
6,3% do extrato etéreo. A margem de segurança (MDPAPI) do nutriente proteína do
farelo de soja foi de 0,87653 e 0,73818, respectivamente para ração pré-inicial e final
para frangos de corte. Para a farinha de carne e ossos observou-se pelos resultados do
banco de dados “TABELAS” uma amplitude proporcionada pelos valores de máximo e
mínimo da MS (4,30%), PB (26,86%), EE (11,50%), FB (1,80%), MM (20,04%),
EMAn para aves (1110 kcal), ED para suínos (1350 kcal), EM para suínos (1290 kcal),
EL para suínos (644 kcal), MET-T (0,54%), METCIS-T (0,92%), LIS-T (1,61%), TRE-
T (1,16%), TRI-T (0,27%). Observou-se alta variação da proteína bruta (36,31 a
63,17%) e de seu valor em aminoácidos totais e digestíveis entre as recomendações. O
aminoácido mais abundante na farinha de carne e ossos é a glicina (6,79%), seguido do
ácido glutâmico (6,40%), e o de menor nível é o triptofano (0,26%). Verificou-se que
com o aumento do percentual de matéria mineral houve diminuição da concentração de
aminoácidos totais e digestíveis na farinha. Para os macro minerais observou-se grande
variação, relacionado a variação de matéria mineral (21,76 a 41,80%). Para o cálcio e
fósforo foram observados grandes amplitudes (7,11 e 3,41%, respectivamente), pois tem
relação como quantidade de ossos presentes. Para os ácidos graxos essenciais a farinha
de carne e ossos é pobre em ácido linoléico (0,38%), aproximadamente 3,6% do seu
extrato etéreo, e em ácido linolênico (0,07%), aproximadamente 0,046% do extrato
etéreo. A margem de segurança (MDPAPI) do nutriente proteína da farinha de carne e
ossos foi de 0,43542 e 0,33602, respectivamente para ração para frango de corte pré-
inicial e final. A proposta final da aplicação da equação proposta por Chung & Pfost
(1964) citado por Duncan (1988), que considera o desvio padrão dos nutrientes nos
alimentos e o percentual de inclusão de cada alimento na formulação da ração
otimizada. O método de margem de segurança utilizado para compor os resultados desta
avaliação foi o MDPAPI, que incluiu a possibilidade do nutricionista alterar o múltiplo
do desvio padrão conforme sua decisão profissional, para maximizar o desempenho
zootécnico. Pelos resultados obtidos conclui-se que existe uma grande amplitude da
variabilidade nutricional dos principais alimentos utilizados nas rações para aves e
suínos, observada em recomendações de tabelas de composição de alimentos ou de um
banco de dados de resultados analíticos, demonstra um grande desafio para o
nutricionista que exige acurácia, precisão e confiabilidade das formulações de rações de
custo mínimo. Pela não significância dos testes de normalidade realizados com os
valores energéticos e principais nutrientes dos alimentos avaliados, conclui-se que
cientificamente não se pode validar a teoria que associa o múltiplo do desvio padrão
aplicado a estimativa da margem de segurança nutricional com a probabilidade da curva
da distribuição normal padronizada. O método recomendado para minimizar a
variabilidade nutricional dos alimentos é o da margem de segurança MDPAPI, que
incluiu o desvio padrão analítico, considera o percentual de inclusão do alimento na
formulação e o múltiplo do desvio padrão conforme decisão profissional, para
maximizar o desempenho técnico e econômico na produção de aves e suínos.