O transporte em sistema fechado é uma ferramenta logística bastante praticada na
174 aquicultura para transportar organismos aquáticos. A saúde e sobrevivência dos peixes
175 por longos períodos, bem como a manutenção da qualidade da água em boas condições
176 é assegurada pelo método de injeção de oxigênio puro às embalagens de transporte.
177 Entretanto, técnicas de transporte de peixes vivos na maioria das vezes são elaboradas e
178 praticadas de forma empírica, fazendo uso de sistemas fechados e água hiperóxica
179 proporcionada pela adição de oxigênio puro as embalagens, sem que se tenha
180 informações sobre suas implicações fisiológicas. Neste contexto, o presente trabalho
181 buscou analisar o efeito do transporte e da água hiperóxica sobre as respostas
182 secundárias ao estresse (glicemia e osmolalidade plasmática), dano oxidativo lipídico
183 (TBARS) e capacidade antioxidante total contra radicais peroxil (ACAP) nas brânquias,
184 cérebro, fígado e músculo de “acari bola” (Peckoltia oligospila) submetidos a diferentes
tempos (3, 6, 12 e 24 h) de transporte em sistema fechado sob normóxia (7 mg L-1
185 ),
hiperóxia moderada (HM = 13 mg L-1
) e hiperóxia severa (HS = 23 mg L-1
186 ). Não
187 ocorreram alterações na glicemia e osmolalidade plasmática. A qualidade da água
188 apresentou menor acúmulo de amônia nos tratamentos HM e HS em comparação aos
189 níveis na água dos animais transportados em normóxia após 24 h. O fígado apresentou
190 menor ACAP após 6 h sob HS, enquanto que, no músculo observou-se oscilações ao
191 longo de 24 h em peixes sob normóxia, sendo esta atribuída, em tese, ao ritmo
192 circadiano assim como verificado em peixes e camarões. Nas brânquias após 12 h a
193 ACAP em HS diminuiu em relação aos peixes em normóxia e HM no mesmo tempo, ao
194 passo em que no cérebro, a ACAP foi menor após 3 h de transporte sob normóxia,
195 voltando a aumentar após 6 h e, mantendo-se similar nos outros tempos de transporte e
196 tratamentos. O conteúdo de TBARS no fígado reduziu em 6 sob HS em relação aos
197 peixes transportados sob normóxia, mas em 12 h o transporte em HM determinou maior
198 dano lipídico em comparação ao translado de 6 e 24 h em HM. No músculo a
199 concentração de TBARS foi menor após 12 h sob HS em comparação aos peixes em
200 normóxia no mesmo tempo. Por fim, nas brânquias e no cérebro não foram observadas
201 alterações significativas. Em conclusão, apesar das variações observadas na ACAP
202 sobretudo no músculo, a competência antioxidante nos órgãos pareceu ser suficiente
203 para a preservação dos mesmos contra estresse oxidativo, não ocorrendo agravamento
204 de dano lipídico em função do tempo de transporte ou concentração inicial de oxigênio
205 dissolvido. Visto que a hiperóxia proporcionou menor acúmulo de amônia ao final do
206 transporte mais longo (24 h), recomenda-se para esta espécie o uso de altas
207 concentrações de oxigênio na água. Novas análises devem ser realizadas para melhor
208 elucidar os mecanismos responsáveis pelos baixos níveis de lipoperoxidação em peixes
209 submetidos à transporte em hiperóxia.