Identificar a dor na criança com distúrbios neurológicos como a paralisia
cerebral (PC) é um processo complexo. O uso de instrumentos elaborados e
validados para mensurar a dor pode promover melhora no processo de cuidado de
crianças incapazes de verbalizar a presença e intensidade da dor. Objetivos:
Realizar a tradução para a língua portuguesa do Brasil e adaptação cultural da
escala de avaliação de dor Face, Legs, Activity, Cry, Consolability revised (FLACCr).
Verificar a confiabilidade e validade da escala de avaliação de dor FLACCr em
crianças com PC. Material e Método: Trata-se de um estudo de desenvolvimento
metodológico. Após a aprovação do mérito ético do estudo, procedeu-se à
avaliação da tradução e retrotradução da escala e da equivalência cultural por meio
da técnica de Delphi. Participaram do consenso da tradução cinco juízes e da
equivalência cultural para verificar a clareza da tradução, 30 especialistas. O
consenso foi obtido a partir de concordância igual ou maior a 80%. Os métodos
utilizados para verificar as propriedades psicométricas da versão em português
foram a confiabilidade, determinada pela estabilidade, consistência interna e
equivalência interavaliadores, a validade de construto e a validade de critério. Os
dados foram coletados no período de fevereiro a dezembro de 2014 em uma
instituição especializada em reabilitação da cidade de São Paulo. Para a validação
clínica foi calculada amostra de 42 crianças, contudo foram estudadas 46 crianças
que realizaram o procedimento gerador de dor aguda, a infiltração anestésica para
tratamento odontológico. As crianças foram avaliadas por quatro observadores e
pela família, em dois momentos distintos, antes da infiltração anestésica,
denominado como tempo zero (T0) e durante a infiltração anestésica, o tempo um
(T1). A família avaliou presencialmente a criança nos momentos T0 e T1 utilizando
uma escala analógica visual (EAV) zero a 10. Os quatro observadores, por meio de
vídeos, avaliaram a criança e aplicaram a escala FLACCr nos mesmos momentos,
sendo que 15 dias após, realizaram uma segunda avaliação, para verificar a
estabilidade do instrumento. Os dados foram analisados por estatística descritiva e
inferencial, fixando-se o nível de significância com o p≤0,05. Resultados: Foram
necessários três ciclos da técnica de Delphi para alcance do consenso da tradução
entre os juízes. A concordância obtida nas cinco categorias da escala foi: Face
95,5%; Pernas 90,0%; Atividade 94,4%; Choro 94,4% e Consolabilidade 99,4%.Para
determinar a estabilidade do instrumento foi realizado o teste-reteste, sendo de
0,854 o coeficiente de correlação intraclasse para todos os observadores no T0 e de
0,879 para todos os observadores no T1. A escala apresentou boa consistência
interna, foi verificada alta concordância entre os observadores em todos os itens da
FLACCr no T0 (alfa de Cronbach de 0,86) e em T1 (alfa de Cronbach de 0,90). A
equivalência foi medida segundo a confiabilidade interavaliadores, obtendo-se
resultados de baixa concordância em T0 (0,42) e alta em T1 (0,72). A validade de
construto foi medida pela diferença dos escores obtidos em cada criança entre os
momentos T1 e T0, sendo os resultados diferentes de zero para cada observador,
para todos os observadores e para a família(p<0,001). A validade de critério foi
estudada por meio da comparação entre a aplicação da EAV pela família e da
FLACCr pelos observadores, não sendo identificada correlação entre as escalas
utilizadas. Conclusão: A escala FLACCr foi traduzida para a língua portuguesa do
Brasil, alcançando-se consenso na adaptação cultural e obtendo-se resultados de
validação que evidenciam a confiabilidade das propriedades psicométricas da
FLACCr para avaliação de dor em crianças com PC.