No cenário atual do desenvolvimento científico e tecnológico, uma das áreas da ciência que se destaca devido à sua acelerada produção de conhecimento, é a engenharia genética, referente ao conjunto de técnicas que envolve a manipulação do material genético. No entanto, as aplicações dessas novas técnicas, que prometem a solução de problemas relacionados à espécie humana, devem ser analisadas com cuidado, uma vez que podem corresponder a uma ideologia perigosa, baseada em princípios antiéticos, tal qual ocorreu no movimento eugênico do final do século XIX e início do século XX. A eugenia, que objetivava o melhoramento da espécie humana, transformou-se em um movimento de caráter racista e discriminatório. Ao reconhecer as aproximações entre os avanços da engenharia genética humana e a ideologia do movimento eugênico, é importante estudar possibilidades de inserir discussões desses temas nos diferentes níveis de ensino e averiguar como esta abordagem vem sendo realizada para a formação de cidadãos críticos e participativos nas decisões sociais. Nesse contexto, objetiva-se com esta pesquisa construir, validar e aplicar um instrumento de investigação sobre conhecimentos, valores e práticas apresentadas por estudantes do ensino superior acerca da engenharia genética e idealização do “melhoramento humano”. A pesquisa foi realizada com universitários dos anos iniciais e finais de cursos das áreas de biológicas e de humanidades de uma universidade localizada no Brasil e outra em Portugal. A metodologia de elaboração, validação e análise do instrumento seguiu a abordagem quantitativa, baseada na escala do tipo Likert, testes estatísticos como o Alpha, KMO e Bartlett, bem como análise dos componentes principais (ACP), das frequências, das médias e das correlações dos componentes, calculadas com o auxílio do programa Statistical Packet for Social Sciences (SPSS). Em relação à validação do questionário, os testes estatísticos aplicados evidenciaram valores satisfatórios de confiabilidade semântica e estatística, mostrando-se válido como instrumento de pesquisa. A ACP resultou em três componentes principais com cargas fatoriais similares ao conjunto de dados do Brasil e de Portugal, que foram classificados, respectivamente, como valores, práticas e conhecimentos, demonstrando a validade dos componentes e do modelo KVP para analisar concepções sobre o tema investigado. Os resultados das frequências e das médias do componente I indicaram que grande parte dos estudantes pesquisados demonstra valores deterministas quanto ao uso da engenharia genética para o melhoramento da população humana e seu aperfeiçoamento quanto às doenças. Contudo, a maioria dos acadêmicos das duas áreas investigadas, nos dois países, evidencia valores sistêmicos quanto ao uso desta tecnologia para buscar o aperfeiçoamento de características físicas e intelectuais. Na análise das frequências e médias do componente II constatamos que a maioria, tanto no grupo de estudantes de biológicas, como de humanas, nos dois países, apresenta respostas coerentes com práticas contrárias às ideologias do movimento eugênico. Em relação à análise do componente III, verificamos que grande parte dos respondentes dos dois países apresenta conhecimento das leis de biossegurança e da complexidade das interações entre a herança genética, ambiental e do desenvolvimento do organismo, mas não detêm conhecimentos sobre o termo eugenia e são céticos ou desconhecem a possibilidade da escolha do sexo e da seleção de embriões saudáveis. De modo geral, os resultados alcançados evidenciam a validade do instrumento e deste tipo de pesquisa para a investigação dos conhecimentos, valores e práticas sobre