Estudos demonstram que cerca de 20% das pessoas acometidas ou tratadas pela
hanseníase, podem apresentar incapacidades físicas e restrições psicossociais,
chegando a necessitar de algum tipo de intervenção na reabilitação e/ou
continuidade da assistência clínica. O reconhecimento das características
manifestadas pelas incapacidades físicas, decorrentes da hanseníase é
fundamental para ampliar a vigilância epidemiológica e ancorar as políticas públicas
na área. Objetivo: Identificar as variáveis associadas à ocorrência das
incapacidades físicas em pessoas que foram tratadas de hanseníase em uma área
da regional sul de São Paulo. Método: trata-se de um estudo epidemiológico do tipo
transversal para análise de pessoas diagnosticadas com hanseníase e a presença
de incapacidades físicas associadas, na admissão e na alta medicamentosa,
notificadas na Supervisão de Vigilância em Saúde (SUVIS) no distrito do
Jabaquara, no período entre 2008 a 2011. As variáveis independentes investigadas
foram: sócio-demográficas, clínicas, terapêuticas, laboratoriais e epidemiológicas. A
avaliação da presença da incapacidade foi detectada pela a escala estabelecida
pelo Ministério da Saúde (MS). Para a análise estatística foi utilizado o teste Quiquadrado
considerando significantes valores de p≤ 0,05, teste Whole Model e Odds
ratio. Resultados: foram identificados 130 casos, com predominância do sexo
masculino (52%), faixa etária entre 30 a 39 anos (28%), 54,6% eram ocupados
segundo Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), 46% da raça parda, 55%
foram atendidos na unidade do Jabaquara, 39% tinham ensino fundamental
completo e 29% eram moradores da região do Tremembé. A forma clínica dimorfa
foi a mais frequente (44%) entre os casos novos diagnosticados, e a classificação
operacional de destaque foi a multibacilar (74%). A maioria dos pacientes recebeu
alta por cura. No diagnóstico, 46% dos pacientes apresentaram grau zero de
incapacidade física, 34% grau I e 16% grau II, na alta medicamentosa esse número
elevou-se para 47%, 26%, e 19% graus zero, I e II, respectivamente. Temeroso
apontar que no diagnóstico 7,7% dos pacientes não foram avaliados. Resultados da
análise de associação não mostraram diferenças estatísticas, apontando apenas a
maior proporção de incapacidades funcionais na classificação operacional
multibacilar. Houve estabilidade de grau de incapacidade (p<0,0001). Na unidade
de atendimento geral havia somente um profissional médico e uma enfermeira e
não dispunha de uma equipe multidisciplinar o que contribuiu com evolução para
piora do grau de incapacidade (p=0,0215). O grau de incapacidade aumenta com a
idade (p=0,0128) e com o número de lesões cutâneas que o paciente apresenta
(p=0,0066). O conhecimento dos fatores relacionado à incapacidade física na
hanseníase e sua possível evolução durante o tratamento demonstra a relevância
deste estudo e evidenciam a necessidade de um maior controle no registro correto
do preenchimento das informações das notificações do SINAN e maior
monitoramento dos pacientes com risco para desenvolver incapacidades.